não sou dos que se encantam com governos tecnocráticos nem gosto de mimetismos irracionais. mas parece óbvio que mario monti tinha um sentido na sua governação. aliás, esse sentido parece ter contagiado a espanha, nomeadamente na resistência a uma intervenção externa por parte dos credores. a espanha conseguiu esta semana importantes resultados na subscrição de mais dívida – e, por isso (até ao momento em que escrevo estas linhas), pode dizer-se que não sofrera os efeitos da atitude de berlusconi.
sem dúvida que os italianos vivem também sob duras medidas de austeridade, nomeadamente no domínio fiscal. e essa circunstância é sempre passível de aproveitamento por qualquer tipo de populismo. mas não acredito que berlusconi consiga o mesmo resultado que alcançou quando provocou eleições em circunstâncias anteriores.
desta vez, a sua atitude dá muito a ideia de uma reacção pessoal em consequência de vários dissabores que teve de enfrentar nos tempos recentes.
é muito importante para a união europeia que a itália continue a ser um bálsamo de inteligência, lucidez e equilíbrio, no meio da desorientação que tem campeado. mario monti é um prestigiado ex- -comissário europeu. o tempo em que esteve em bruxelas consolidou-lhe a reputação. é talvez, hoje, o dirigente europeu mais respeitado. seria interessante que concorresse às próximas eleições.
a grécia acalmou?
os ventos, para os lados da grécia, parecem estar a acalmar. será?
a grécia conseguiu uma recompra de dívida positiva, após o acordo alcançado com as instituições europeias, e os mercados pacificaram-se. entretanto, a ocde fez sair dados positivos sobre o clima económico, pelo sétimo mês consecutivo…
não ponho no mesmo plano de relevo as palavras de françois hollande indicando que a zona euro estaria a sair da crise. hollande ainda não merece crédito suficiente, tem andado muito perdido neste contacto com a realidade.
mas os indicadores referidos exigem que os ponderemos.
barroso e guterres
quase sempre, desde há uns meses, os temas neste espaço respeitam a perguntas feitas pelo director do sol. questiona-me esta semana sobre as declarações feitas por antónio guterres e durão barroso, a propósito da responsabilidades que tiveram na situação em que o país se encontra. e sugere-me que as relacione com as eleições presidenciais de 2016.
ainda é cedo quanto às presidenciais! mas há muito para dizer sobre o que disseram (e não disseram) os meus dois antecessores nas funções de primeiro-ministro quanto às respectivas responsabilidades. cada um disse o que entendeu adequado, correcto, justo. as palavras de ambos merecem ser ponderadas com tempo. só depois se deve falar sobre elas.
caridade ou solidariedade?
hoje em dia, discute-se muito o que é melhor: se caridade, se solidariedade.
‘fazer o bem sem olhar a quem’ é um ensinamento que ouvimos desde pequenos. a caridade é uma bonita virtude e a solidariedade uma louvável atitude. andar a debater esses conceitos como se se excluíssem reciprocamente, não faz sentido.
a sociedade portuguesa, necessita de ambas. dizer que uma é de ‘esquerda’ e a outra de ‘direita’ é caricato.
uma pessoa deve sentir solidariedade para com quem está em situação difícil e praticar a caridade com quem precisa de ajuda.
as pessoas que têm obra feita não se devem deixar enredar nessas conversas e nessas quezílias. quem provoca um debate desses é, normalmente, quem tem tempo livre e fala mais dos outros do que faz pelos outros.
o ‘estoiro’ do sporting
quando estava a assistir à 2.ª parte do sporting-benfica pensei que toda a equipa do sporting tinha sido titular no jogo de sexta-feira contra o videoton – havendo, por isso, uma explicação razoável para aquele ‘estoiro’ físico.
sucede que, no dia seguinte, disseram-me que só cinco daqueles jogadores tinham jogado contra os húngaros. e aí custou- me mais a compreender aquele descalabro. algo se passa que devia ser explicado. não há quem não reconheça que até temos um razoável lote de jogadores, melhor do que em outros anos. então, qual o motivo de tão maus resultados?
tenho defendido que importa dar tempo a quem está a trabalhar em vez de se alimentar qualquer tipo de instabilidade. mas os dados objectivos começam a intrigar e a incomodar. o que se passa? como se justifica aquela falta de preparação física? sim, porque não se descortina outro motivo para tão grande quebra de rendimento.