A polémica em França com a fuga de Gérard Depardieu aos impostos

O Astérix já longe estava, e agora, a França ficará sem o Obélix. Nada mudará na banda desenhada em si, a fuga foi antes dos actores que deram cara às personagens no cinema: Gérard Depardieu vai entregar o seu passaporte gaulês e evadir-se para a Bélgica, para longe da taxa de imposto de 75% que…

«não gosto de ricos», chegou a confessar françois hollande,
durante a campanha que levaria o candidato socialistas a sentar-se no eliseu,
desde maio, como presidente francês. e não demorou muito tempo a reflectir tal
afirmação no regime tributário do país: hoje, quem auferir mais de 1 milhão de
euros por ano paga uma taxa de imposto sobre o rendimento de 75%.

um imposto que levou gérard depardieu, talvez a cara mais
popular além-fronteiras do cinema francês, a exilar-se. os rumores começaram a
surgir na passada semana, com as notícias de que o actor comprara uma casa em
nechin,  uma pequena localidade belga de
2 mil habitantes, a escassos quilómetros de frança, e onde o regime tributário é
mais leve – o the guardian escreve,
na bélgica, o imposto para salários superiores a 34,300 euros é de 50%.

depardieu não foi o primeiro a fugir. antes, christian clavier,
actor que consigo contracenou, como astérix, na tradução cinematográfica da
famosa banda desenhada onde uma dupla de gauleses desafia o império romano de
júlio césar, fora em outubro viver para londres, capital inglesa. porém, foi em
agosto que nasceu a polémica mais mediática, quando bernard arnault, o homem
mais rico em frança, requereu a cidadania belga.

o caso de dépardieu está agora a dividir o executivo francês
e a oposição, além de fazer ecoar pelas ruas as opiniões da população do país. jean-marc
ayrault, primeiro-ministro francês, foi dos primeiros a criticar o actor,
apelidando-o no le parisien de «patético»
ao dizer que as pessoas que estão a procurar exílio «não se preocupam em ficar
mais pobres, pois querem antes ficar mais ricas».

numa carta publicada no journal
du dimanche, o actor, de 63 anos, defendeu-se ao revelar que pagou 145
milhões de euros em impostos durante 45 anos, garantindo que, só em 2011, a
taxa de imposto por si paga equivaleu a 85% do seu rendimento anual – portanto,
10% superior à taxa exigida por lei. «não mereço ser admirado ou que tenham pena
de mim, mas não serei chamado de patético», escreveu, garantindo que «sempre
[pagou] os seus impostos».

o le monde, num
texto que publicou sobre um jantar que o actor terá organizado com alguns
amigos em paris, escreveu que depardieu terá sugerido, em tom jocoso, que
vladimir putin, presidente russo, até já lhe teria enviado um passaporte.

já françois hollande preferiu não apontar críticas directamente
a depardieu, antes dizendo que, ao invés de «culpar este ou aquele», queria
«saudar o mérito dos têm muito mas que aceitam pagar os seus impostos em
frança, de produzir em frança, de trabalhar em frança e de servir o seu país».

a população, porém, parece compreender a decisão de gérard
depardieu: uma sondagem online realizada pelo le parisien, publicada no
domingo, mostra que 68,3% dos inquiridos consideraram que o actor tinha razão
em pedir a cidadania belga, contra os 31,7% que responderam negativamente.

diogo.pombo@sol.pt