Mais um empate, mais confusão no Real de Mourinho

É uma relação de causa-efeito: basta aumentar um ponto que seja, e lá chegam os velhos problemas desta época. Assim vai a Real desordem em Madrid, com José Mourinho sempre no meio das notícias que dão conta do crescente desacordo que alguns jogadores do Real Madrid sentem face à gestão do português. Falta de soluções…

«culpas e bombas de fumo», foi precisamente o título com que
o el país encabeçou o seu mais
recente texto que palavreava sobre as tensões no seio da equipa madrilena,
intensificadas pelo empate caseiro (2-2) de domingo, frente ao espanyol.

uma igualdade que voltou a aumentar a distância para a
liderança catalã da liga espanhola, do barcelona, que assim já dista 13 pontos
na classificação, onde o real se encontra no terceiro lugar – também atrás do
vizinho atlético de madrid. pontos à parte, a partida do fim-de-semana reforçou
um dos problemas da equipa: as dificuldades em desmontar equipas que vão ao seu
estádio e se cerram a defender.

um problema que, alegadamente, os jogadores merengues atiram
em forma de culpa ao seu treinador. o el
país escreve que iker casillas (capitão de equipa), sérgio ramos, gonzalo
higuaín, marcelo, mezut özil, karim benzema, kaká e raul albiol serão alguns dos
futebolistas às ordens de mourinho que alegadamente o criticam por não corrigir
a incapacidade da equipa em alterar o seu estilo de jogo e surpreender os
adversários.

«só marcamos de bola parada, a partir de centros laterais ou
desde fora da área», lamentou um deles, sem se saber quem. no domingo, um dos
golos chegou pela segunda hipótese, o de ronaldo, e o outro, de coentrão, chegou
empurrado por um sprint do defesa
português que quase só parava dentro da baliza.

porém, o futebol do real na la liga não foge a uma realidade: a equipa abdica muitas vezes da
bola, preferindo dá-la ao adversário para depois a roubar, repentinamente, e
lançar rápidos contra-ataques. assim jogou a época passada, a que valeu a
conquista do campeonato e o salto sobre a barreira dos 100 pontos.

mas os adversários aprendem, e aprenderam a lidar com uma
ameaça merengue que, de uma temporada
para a outra, não mudou de cara e conteúdo. aliás, parece ter piorado: sofre mais
golos de bola parada (é apenas a 6ª. equipa que menos duelos aéreos ganha na
liga), marca menos (39 golos, contra os 60 que já levava, na época passada, à
mesma jornada) e não consegue ter estabilidade na defesa – ramos tem sido
várias vezes desviado para a lateral direita.

o mundo deportivo,
jornal desportivo de conhecida faceta pró-barcelona, escreve hoje que o plantel
merengue decidiu adoptar uma postura de ‘calar e obedecer’ até ao final da
época, lembrando as várias críticas que mourinho já teceu à atitude dos seus
jogadores em campo, após alguns dos resultados negativos desta temporada.

até pegar no discurso
findo o encontro frente ao espanyol, o treinador português confessou, na sala
de imprensa, que alcançar o barcelona e conquistar a liga espanhola «está quase
impossível» face aos 13 pontos que os separam na classificação, uma distância
que considerou «demasiado grande».

um dia volvido, na segunda-feira, e por ocasião do jantar de
natal organizado pelo clube, o presidente, florentino pérez, sublinhou à marca que «o real madrid tem como
princípio nunca se render», palavras que talvez reflictam a esperança do líder
nas hipóteses de a equipa ainda poder conquistar a copa do rey e a liga dos
campeões, que seria a décima da história do real madrid – o principal objectivo
para o qual josé mourinho foi contratado.

após as declarações do seu treinador, casillas realçou que
«faríamos mal em baixar os braços em dezembro, apesar de a distância nesta
altura não poder ser tão grande», antes de xabi alonso, outro internacional espanhol
da equipa, questionar: «dar a liga por perdida? não se pode dizer isso. vamos
continuar a lutar, é o nosso gene competitivo».

o real madrid não terá que procurar muito para encontrar um
exemplo de recuperação na liga. em 2008-2009, à 15.ª jornada, os merengues, acabados de perder em camp
nou contra a primeira versão/ano do barça de pep guardiola, estavam a 12 pontos
da liderança blaugrana.

juande ramos, técnico espanhol que venceram duas taças uefa
com o sevilha, chegou ao comando técnico da equipa nessa mesma jornada e, até
ao confronto seguinte com o barcelona – o histórico 2-6 em madrid, no santiago
bernabéu -, fez com que a equipa conquistasse, em 18 encontros, 52 pontos em 54
possíveis e encurtasse a desvantagem para quatro pontos.

esta época, restam nove jornadas até que o real receba o
barça no seu estádio, na 26.ª jornada, no primeiro fim-de-semana de março. até
lá, o melhor que mourinho poderá fazer é conquistar todos os 27 pontos em
disputa e esperar que os catalães percam alguns ao longo do seu caminho até
madrid.

diogo.pombo@sol.pt