menos normal, porém, poderá ser o facto de, pelo menos durante a noite de hoje, gisela trocar a casa de fados onde canta regularmente, o sr. vinho, em lisboa, pelo palco da discoteca lux, também na capital, para um concerto.
é certo que não é a primeira vez que canta neste espaço – a cantora foi uma das convidadas de nicolas jaar e com ele interpretou ‘os vampiros’, de zeca afonso, na véspera da grande manifestação de 15 de setembro. mas fado na discoteca é coisa para fazer franzir o sobrolho dos puristas.
só que gisela joão é assim. pouco convencional, um cavalo bravo, um puro-sangue. e uma apaixonada por música electrónica que há muitos anos que frequenta o lux como cliente e sempre brincou que um dia haveria de cantar ali. “trago o fado nas veias, mas adoro a noite, adoro dançar. muito nova descobri o house e depois o techno, entusiasmei-me com o plastikman, o carl graig, o jeff miles, o françois k., o harvey, o laurent garnier…”, conta.
dela, o realizador de cinema joão botelho diz que é “uma mutante. quando é, tem aquela maneira de ser rapariga com jeitos de criança, quando canta, tem feitios de mulher, poderosa e única, com uma voz rara e magnífica. é a única mulher que conheço que quando tira os sapatos fica mais alta”. esta noite, quando subir ao palco do lux, o mais provável é que leve sapatos, mas que depressa os tire. e, neste dia em que o calendário maia previa o fim do mundo, gisela joão trará consigo os fados tradicionais da história portuguesa, o fado canção, mas também algumas surpresas. e aquele jeito gaiteiro que só a miúda do norte tem.