acredito que sintam com convicção que são injustas as medidas do governo em relação aos reformados. as críticas que têm feito resultam, certamente, de considerarem que essas medidas não são correctas no actual contexto.
considero manuela ferreira leite mais próxima do que bagão félix da escola de economistas que, em portugal e na europa, defendem estas políticas. sempre o foi. tal como cavaco silva. admito que discordem agora dos excessos contraccionistas da política de vítor gaspar. mas, quando o actual ministro das finanças tomou posse, o que se discutia era de qual dos dois ele era mais próximo: se de cavaco silva, se de manuela ferreira leite.
antónio bagão félix foi ‘meu’ ministro das finanças, pelo que conheço bem o seu pensamento. ele é, essencialmente, um democrata-cristão e não pertence (nem pouco mais ou menos) à mesma escola de pensamento das individualidades referidas.
resumindo: estou convencido de que bagão félix se recusaria, de todo, a aplicar este memorando – enquanto manuela ferreira leite poderia aceitar essa responsabilidade, desde que pudesse introduzir-lhe alterações significativas. falo no quadro inicial de ajustamento, e não nas correcções posteriores. em relação a essas, a antiga ministra das finanças já se demarcou completamente. e não tenho qualquer razão para pôr em causa a sua palavra.
e se o oe chumbar?
o tribunal constitucional pode declarar, ou não, algumas normas inconstitucionais. por mim, penso que cavaco silva faz muito bem em suscitar, desde já, a questão.
se o tribunal constitucional detectar alguma inconstitucionalidade, o governo e a maioria devem aceitar a decisão com respeito institucional. é este o sistema de governo que temos e, até ser mudado, é o conjunto das suas normas que vigora. não será fácil encontrar rapidamente alternativa para as receitas afectadas por essa eventual decisão – mas ninguém acredita que os responsáveis da maioria já não tenham pensado nisso.
o massacre de newtown
o massacre ocorrido em newtown, nos eua, provoca um sentimento de repúdio carregado de horror. e suscita uma questão: quantas vidas será preciso perderem-se para que, naquele país, se mudem as leis sobre uso e porte de arma? embora, com a maneira de ser dos norte-americanos, não fosse de estranhar que, num eventual referendo,vencesse uma posição liberalizadora e não proibicionista.
mourinho sai do real?
a carreira de josé mourinho no real madrid, a continuar assim, não estará longe do seu termo.
conheço os dirigentes daquele clube. e a dimensão e as caraterísticas dessa grande ‘instituição’ espanhola.
não é fácil de explicar, mas o real madrid não é clube para esta guerrilha constante que tem envolvido o treinador português. quase todas as semanas há um assunto: ou vai para inglaterra, ou casillas está zangado, ou vai para frança, ou há crise com sergio ramos, ou zanga com valdano, ou tem saudades de itália, ou o presidente florentino pérez está distante ou, afinal, defende-o.
josé mourinho pode ter muitas razões de queixa. ainda outro dia, um corajoso locutor espanhol se referiu, em termos acalorados, ao chauvinismo reinante em madrid contra os portugueses. nota-se nas atitudes de iker casillas e de sergio ramos que algo se passa. ainda no jogo contra o espanhol, aquele corte de cabeça de ramos que originou o golo do empate parecia uma brincadeira de criança.
só que mourinho tem de ser superior a tudo isso. em última instância, clarifica. mas este ruído desgastante, em permanência, não pode dar bom resultado.
todos acreditamos que mourinho é capaz de surpreender tudo e todos e ganhar a liga dos campeões. mas o principal será esclarecer as questões de poder que por ali circulam. jorge valdano não era o único foco de desestabilização. quererá mourinho ‘esticar mais a corda’? ele não costuma aceitar dúvidas nessa matéria – e faz da coesão dos seus comandados um trunfo essencial.
josé mourinho é homem de lutar, não de se resignar. não sei se, desta vez, conseguirá fazê-lo com sucesso. mas todos gostávamos que tal acontecesse.
*votos de um santo natal para todos, equipa do sol e leitores.