sobre os cortes nas pensões, passos coelho decidiu pôr a tónica em «algumas pessoas que se queixam de lhes estarmos a pedir um esforço muito grande, mas as pensões que têm não correspondem ao valor dos descontos que fizeram». o que é uma generalização excessiva e abusiva. porque a maior parte dos pensionistas com reformas acima de 1.350 euros vão sofrer em 2013 um corte de cerca de 20% e, no caso de reformas acima dos 5.000 euros, esse corte atingirá mesmo valores na ordem dos 50% ou até mais. percebe-se, pois, que todos aqueles que levaram 30 ou 40 anos a fazer os seus descontos para a segurança social vejam agora esta redução abrupta da sua reforma (mais uma a juntar às dos últimos anos) como «um confisco» ou «um cataclismo tributário», nas expressivas palavras de bagão félix.
passos coelho querer-se-ia referir a alguns casos de ‘pensões milionárias’ resultantes de regimes de excepção na banca, e em particular do banco de portugal, ou às antigas subvenções para cargos políticos – que conferiam, na verdade, reformas completas e de luxo a quem não descontara valores que as justificassem.
mas esses casos reduzem-se a uns poucos milhares – e o primeiro-ministro confundiu-os, indevidamente, com os de muitíssimos outros milhares de pensionistas com os descontos completos. marcelo rebelo de sousa, sempre arguto, viu nas palavras de passos «uma canelada» a alguns pensionistas mais críticos do oe, como cavaco silva, bagão félix, manuela ferreira leite ou eduardo catroga (esqueceu-se de mário soares, entre outros). o que é certo é que o primeiro-ministro conseguiu pôr, não apenas estes, mas quase todos os pensionistas contra si.
só lhe faltava, para o desastre das suas declarações ser ainda maior, queixar-se de que perde «mais tempo» com problemas «da coligação» do que «o tempo que gasta» com o psd. foi o que fez. revelando ao país o estado periclitante da saúde da coligação.
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