as primeiras notícias mencionaram a típica ausência de motivos para cometer um acto desta natureza hedionda e o debate sobre o porte de armas entrou na agenda política. acontece que a arma do assassino era da mãe e que o connecticut tem leis restritivas quanto ao uso de armas. isto quer dizer que adam lanza quis matar (episódio psicótico ou não incluído) e arranjou maneira de o fazer. penso que o acesso fácil às armas automáticas é uma ideia assustadora, mas os casos de columbine ou virginia tech teriam sido mais adequados à discussão. o que é diferente aqui? adam lanza entrou numa escola e matou vinte crianças e sete adultos. não é que as vidas valham mais ou menos consoante a idade. mas neste caso sublinham aquela falta de motivos de que não nos livramos tão cedo. é um problema sem solução.
terapia de conversão
li um artigo na the atlantic sobre as implicações de uma lei recente do senado norte-americano, sb 1172, que proíbe os tratamentos de conversão da orientação sexual realizados por terapeutas a pessoas com menos de 18 anos. a lei está a ser contestada por grupos que defendem que há nestes casos uma violação da primeira emenda, porque os tratamentos consistem em conversar com os pacientes. afinal de contas são só palavras… mas a liberdade de expressão não é para aqui chamada. um médico pode afirmar em público que a homossexualidade é imoral, mas não pode tentar mudar a orientação sexual de um jovem. isso é coacção e tem maus resultados. mesmo os pais que põem os filhos nas mãos de charlatães que vêem a homossexualidade como uma doença, cuja cura passa por partilhar dados sobre a sua vida privada, não têm o direito de dispor dos filhos dessa forma. os filhos não são propriedade sua. há que ser mais conservador na vida. neste caso é um crime querer mudar a ordem da natureza.
qual trabalho?
não é a primeira vez que leio notícias sobre uma necessidade de enquadrar legalmente aquilo que aparece descrito como ‘trabalho sexual’. tentando não ser a bota de elástico que sou relativamente a certas questões, gostava de perceber que argumentos são usados na altura de definir a prostituição como um ‘trabalho’. porque se é um trabalho, então passa a ser uma alternativa como outras para ganhar a vida. mas produzindo exactamente o quê? para aqueles que acreditam que não somos propriamente donos do nosso corpo, a prostituição será uma aldrabice tão grande quanto vender o padrão dos descobrimentos. mas mesmo para os mais moderados, a ideia do trabalho associado ao sexo é um bocado seca, mesmo pensando nos pouco modernos ‘deveres conjugais’. agradeço que notem o meu esforço no sentido de abafar qualquer moralismo em mim. não tenho nada contra ninguém. só me parece perverso chamar ‘trabalho’ ao uso do que nos foi dado a todos. ou será que se passa ali alguma coisa que não sabemos?
perceber o país
na edição da tabu da semana passada foram publicados os vários dados dos censos, que nos ajudam a perceber um pouco melhor o país que somos em 2011. aqueles que imaginavam um país envelhecido tiveram as suas suspeitas confirmadas nas 2.010.064 pessoas com mais de 65 anos, que contrastam com 1.572.329 de crianças e jovens dos zero aos 14 anos. como me interessa mais conhecer os problemas que existem e pensar em soluções concretizáveis do que fazer previsões sobre futuros desconhecidos, fui ver melhor o que se passava. num gráfico comparativo com 2001, na página 58 da revista, percebemos que a diferença não é assim tão significativa como se apregoa. há agora mais 316.571 pessoas com mais de 65 anos. não é razão para alarme. mas é uma boa oportunidade para pensarmos sobre a vida nos lares, por exemplo, mesmo nos que não são ilegais, mas onde os mais velhos são tratados como se não fossem pessoas. há tanto a fazer nesta área em portugal. há que começar ontem.
não sair da crise
há uma tendência superficial de descrever a crise como um problema de falta de dinheiro. não é errado, mas é insuficiente. a crise em portugal dura há muito e tem o seguinte aspecto na vida profissional. a não simpatiza com b, apesar de b ser talentoso. a tem o poder de o contratar, mas opta por t, que é desleixado, mas que se ri das suas piadas. b tem qualificações e é sério, mas isso não conta quando ‘não simpatizar com’ é um critério de selecção. a situação que descrevo não é invulgar. a antipatia é irracional na maior parte dos casos e vem acompanhada de muitas desculpas (ideológicas, etc.). a verdade é que não temos todos de ser amigos no trabalho. há que trabalhar o melhor possível para o mesmo fim. pois em portugal prevalece a ideia de que o quotidiano de um escritório é mais importante do que a qualidade final do que produz. há que tornar as excepções no funcionamento normal do país. não saímos da crise de outra maneira.