É preciso linha e lata

Um colega de trabalho deve-me dinheiro, mas não tenho coragem de lho pedir. O que devo fazer? Edite Couto

a situação é realmente embaraçosa, e não me ocorre nenhuma regra de etiqueta sobre o assunto. o dinheiro é sempre um tema desagradável – e nos bons tempos em que, num certo meio, nunca era um problema (e se era não se sabia, porque se tratava de questão tabu), considerava-se de mau gosto falar sobre o assunto.

claro que hoje esse tal ‘meio’ vive em geral com mais dificuldades, pelo que necessariamente já não pode atirar o dinheiro para a zona dos tabus. e quem não vive com dificuldades normalmente gosta demasiado do dinheiro para aceitar prescindir dele – sobretudo em pensamentos, actos e omissões.

nas relações entre amigos, a questão torna-se ainda mais delicada. já se sabe que as boas contas fazem os bons amigos. mas todos sabemos também que muita gente se encosta à ‘omissão’ para evitar pagar dívidas, enquanto os credores espreitam o momento de passar ao acto de as cobrar.

sabe o que acho? na vida, é preciso linha e lata. conclusão: encha-se de lata e, com a melhor linha possível, peça o dinheiro ao colega, frisando que lhe faz muita falta (o que, na actual situação, ninguém porá em dúvida). e quando tiver essa dívida cobrada, siga o que shakespeare dizia no hamlet: «não acredites, nem nos que pedem emprestado, nem nos que emprestam; porque, muitas vezes, perde-se o dinheiro, o amigo e o empréstimo…». a não ser que não se importe de transformar o empréstimo numa doação: o chamado ‘emprestadado’.