parece-lhe que «os ministros não dominam os conteúdos da governação». e propõe, por isso, uma ideia estrambólica mas cheia de boa vontade: «um ministro – alvitra – antes de ser nomeado, antes de aceitar esse encargo de governar, havia de ir a uma junta de especialistas independentes que avaliasse as suas capacidades». deve ser assim que são nomeados os bispos, presume-se. e d. manuel martins remata as suas considerações com uma ideia pouco original mas não menos surpreendente: «diria que se podia fazer já uma remodelação» do governo. por determinação e inspiração divina, supõe-se.
recorde-se que também outros bispos, nos últimos meses, decidiram intervir abertamente no terreno da análise e da luta política. como o incontrolável bispo das forças armadas, d. januário torgal ferreira, que não se inibiu de comparar os governantes dos últimos executivos: «os anteriores [os de sócrates], que foram tão atacados, eram uns anjos ao pé destes diabinhos negros que acabam de aparecer [os de passos coelho]». ou o mais moderado bispo de braga, d. jorge ortiga, que não resistiu a generalizações abusivas sobre a classe política: «para eles [os políticos], muitas vezes e quase sempre, vale apenas o bem-estar pessoal ou, quando muito, do seu grupo ou partido». nem mais.
éum caminho perigoso este que vêm trilhando alguns dos mais conhecidos bispos portugueses – o de, ao sentirem o poder político fragilizado pelos efeitos da crise, acharem que se abre espaço à sua intervenção pública em terrenos dos quais devem estar afastados e que deveriam evitar.
dos responsáveis religiosos espera-se preocupação pelos mais fracos e pela solidariedade social, não opiniões sobre política partidária, pura e dura, aplaudindo, por exemplo, os manifestos de mário soares ou propondo remodelações do governo – como acaba de fazer d. manuel martins. com uma entrevista que, no mínimo, denota uma evidente falta de espírito natalício.
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