A arte e a guerra civil

Vi há duas semanas, em Washington, no Smithsonian American Art Museum, a exposição The Civil War and American Art.

a guerra civil foi o acontecimento decisivo da história dos estados unidos, aquele que consolidou a nação. publicaram-se sobre a guerra mais de 75.000 títulos. mas faltava esta mostra das artes visuais – da pintura, da fotografia, da escultura – para completar a imagem.

a paisagem dominou a pintura americana do século xix, com os artistas maravilhados com aquela natureza única – de cenários de utopia e de romance. como kindred spirits de archer durand, em que de um promontório rochoso dois passeantes olham uma harmonia selvagem, de montanhas, rios, árvores e pássaros.

mas na paisagem já há a premonição da guerra como em approaching thunder storm de martin johnson heade, ou o iniciático approaching storm, owl’s head de fitz henry lane ou ainda the iceberg de frederick church. em todos estes quadros, anteriores ao conflito, aparecem sinais de tormentas: na terra, mas também nos mares, como na aurora borealis de frederick church.

o éden americano que está para albert bierstadt em yosemite valley, na califórnia, e para john frederick kensett em paradise rocks, newport, vai ser o teatro da guerra. outra percepção vem da fotografia que documenta o lado mais negro – a carnificina. alexander gardner fotografou valas de confederados em antietam no dia seguinte à batalha. andrew joseph russell, gardner e timothy o’sullivan fizeram o mesmo em gettysburg. também aí esteve mathew brady, o autor do famoso retrato de lincoln de 1860. e são impressionantes as fotos das cidades do sul destruídas pela artilharia e pelo saque dos soldados de sherman, como ruins in charleston.

estes os retratos das paisagens, das coisas e dos homens mortos. e os vivos? os pintores tomaram partido: sanford gifford deixou as impressões dos nortistas; os irmãos chapman (conrad wise e john gadsby) dos confederados. um grande artista, winslow homer, fixou uma galeria de combatentes em sharpshooter, skirmish in the wilderness ou prisioners from the front.

a exposição conclui com pinturas sobre a escravatura, as plantações, a vida no sul. eastman johnson é o mais representativo destes ilustradores com composições como negro life at the south ou the lord is my shepherd. mas winslow homer também retratou o pós-guerra e a abolição, em a visit from the old mistress (uma senhora sulista a visitar as suas antigas escravas) ou a retoma dos trabalhos no campo – the cotton pickers ou the veteran in a new field.

é de 1872 a emblemática pintura de eastman johnson the girl i left behind me (que ilustra o cartaz da exposição) e tem o nome de uma canção de guerra, popular no norte e no sul. a guerra acabara, com mais de 600 mil mortos, vencedores e vencidos tinham passado grandes provações, mas a unidade da nação estava garantida.