acabou de estrear a peça ‘há muitas razões para uma pessoa querer ser bonita’, no teatro aberto, uma discussão recorrente nos tempos de hoje.
sim. a peça tem a ver com os juízos de valor que fazemos sobre os outros, muitas vezes sem consciência. são diálogos realistas, que escondem sentimentos, revoltas e frustrações. fala-se de como uma pessoa é bonita e a outra é ‘apenas’ normal. são dois casais, a ana guiomar e o jorge corrula, eu e o tomás alves e eu sou a bonita e sou julgada sem nunca se questionar o que sinto. toda a gente acha que sou feliz porque sou bonita.
há tendência para se esvaziar uma mulher bonita? se é bonita e tem sucesso, tem de ser feliz.
a sociedade nem põe a hipótese que a vida não corra bem a essas pessoas. mas, como digo na peça, ‘ser bonita tem tanto peso como ser feia’.
quais foram as maiores dificuldades que sentiu?
venho do registo da televisão e foi difícil encontrar o peso certo das palavras. sinto a responsabilidade porque há muito tempo que não fazia teatro e trabalhar no teatro aberto, com o joãolourenço, é uma coisa que queria muito. esse peso fez-me ficar mais apreensiva, mas é normal. o medo faz parte do ser actor.
vem da escola profissional de teatro de cascais, mas a verdade é que tem feito pouco teatro. foi uma opção?
tenho, por isso o meu medo. quando terminei o curso fiz três peças no teatro experimental de cascais, mas entretanto sugiram os morangos com açúcar e, a partir daí, tenho estado mais ligada à televisão e acho que tenho de dar primazia à minha ligação à tvi. muitas vezes perguntam-me se não quero ir para o estrangeiro, mas acho que seria injusto não abraçar as oportunidades que o meu país me dá.
na novela louco amor fez a sua primeira vilã. como tem sido a experiência?
muito intensa, foi a primeira vez que fiz este registo de limites ténues entre a sanidade mental e a falta dela. consegui descobrir novos registos em mim e tive oportunidade de ver reacções diferentes no público.
como assim?
foi a primeira vez que tive abordagens menos boas na rua. há dias, num centro comercial, tive uma senhora aos gritos e a ameaçar-me de porrada, pelo que a patrícia tinha acabado de fazer na novela. até agora tive sempre as boazinhas e as cómicas.
este ano foi o fim dos morangos com açúcar. o que guarda dessa experiência?
saudades, boas recordações… para mim terminou de forma engraçada porque, ao fim de seis anos, voltei à minha personagem [a becas] para fazer o filme que marcou o fim da série. tenho muito carinho pela geração morangos. foi uma oportunidade para muitos jovens que estavam a sair das escolas de representação e penso que foi também uma mudança daquilo que era a representação em televisão.
entre 2007 e 2009 esteve parada. como lida com a insegurança na sua área?
o problema é que, no nosso caso, dos actores, além disto ser uma profissão, é uma paixão e preciso de a alimentar. nunca me deixo ficar na inércia, aproveito esses tempos para estudar, mas é muito difícil para um artista ficar em casa. infelizmente, temos muitos actores parados, em casa. para mim é assustador pensar em alguém que tem uma carreira de 30 anos e que continua a viver em insegurança.
pensa no que fará se lhe acontecer o mesmo?
obviamente já pensei nisso, mas seria sofrer por antecipação. preciso de usufruir deste momento em que estou a trabalhar e em que tenho projectos que me satisfazem. mas é triste perceber que muitas pessoas continuam a achar que os artistas são palhaços e que fazemos o que fazemos para nos divertirmos. esta é a nossa profissão.