Necessidade de fuga vista por Victor Hugo Pontes

Outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo’, canta José Mário Branco, em ‘FMI’. O tema, que se ouve em Fuga Sem Fim, é hoje tão relevante como em 1979, data da sua criação. E são estas palavras que conferem um enquadramento de…

de que fugimos? para onde fugimos? por que fugimos? todas estas questões são colocadas por victor hugo pontes, numa obra que conta com cinco intérpretes em palco e trabalha com «a palavra, o movimento e os materiais para comunicar uma ideia». diariamente o homem é colocado «em situações das quais quer fugir», sobretudo «no momento em que estamos, vivemos a pensar se ficamos ou se vamos». mas mais do que estes fantasmas exteriores à sua existência, o ser humano foge de si mesmo – foi esta a conclusão a que o artista plástico, encenador e coreógrafo chegou durante o processo criativo deste espectáculo. em fuga sem fim faz-se um «simulacro da realidade» na procura de uma saída para esta incessante fuga.

a parceria entre victor hugo pontes e joão paulo serafim nasceu em 2007, quando juntos criaram o espectáculo ensaio, baseado em textos de susan sontag. ficou, desde então, o desejo de voltarem a criar juntos, numa ideia lançada por serafim – a fuga. com o desafio da companhia instável surgiu a oportunidade ideal para montar este espectáculo, cuja estreia aconteceu em novembro de 2011, em guimarães.

mais de um ano depois, fuga sem fim volta a palco, desta vez na culturgest, em lisboa, naquilo que victor hugo pontes considera uma ‘restreia’ muito desejada: «é ingrato dedicar meses a criar um espectáculo e depois ter tão poucas oportunidades de o apresentar», desabafa. mas, diz, em portugal, a vida dos espectáculos de dança é sempre «excessivamente curta».

raquel.carrilho@sol.pt