ABSilva – pensador da república

Ele correspondia a esse modelo do ‘bom civilizado’ que diz aquelas coisas simpáticas, boazinhas, moralizantes, sem querer saber da realidade.

um dos sinais da profunda decadência dos europeus é a ausência de qualquer pensamento político, fora da cartilha oitocentista, do humanitarismo progressista e globalista. que é também a cartilha e o passe-partout de boa parte dos senadores, dos eleitos, dos pensadores, dos gurus e banalizadores da república que temos.

o sucesso do notório ‘professor’ artur baptista da silva veio exactamente por ele corresponder a estes clichés de respeitabilidade consagrados: criara uma agência especial, um ‘observatório’ económico do pnud e das nações unidas, uma universidade americana ‘milton wisconsin’. fazia a repetição enérgica das banalidades desenvolventistas ou miserabilistas, eufóricas ou lamentativas, ditas com preocupação e prudência. e falava gravemente, contra o governo e os poderes constituídos, contra a alemanha e os bancos, em nome de uma espécie de consciência colectiva da humanidade em risco que é quem sempre invocam como suporte as senatoriais luminárias.

porque o discurso correcto é este, o do absilva. do discurso político desapareceram quaisquer considerações sobre o poder, as capacidades letais e salvíficas do poder, o peso e a dimensão dos interesses, dos grupos, das corporações e das nações, da segurança e do risco para apenas falar de bons e maus pensamentos e sentimentos, para se dizerem banalidades à laia de grandes considerações filosóficas, com o ar sério e sincero de quem apresenta grandes súmulas e conclusões.

o segredo de absilva e que o levou a enganar tão facilmente o establishment político-mediático, foi que ele na substância e na forma correspondia a um ‘bom pensador’ – progressista, tecnocrático, antifascista, com a boca cheia dos grandes princípios, uma criatura das nações unidas que só se ocupa de ‘manter a paz e erradicar a pobreza’ e que nas horas vagas, viera iluminar os beócios da terrinha que um dia abandonara pelas cidades da luz.

ou melhor, pintando a realidade com aquela gíria tecnocrático-financeira – o crescimento sustentado e estrutural, muitos números, muitos milhares de milhões, europa aqui, pnud acolá, mais as altas esferas do globo, que o homem frequentava e cuja claridade trazia aos portugas saloios.

sempre em nome de bruxelas e nova iorque, como os deuses e oráculos de quem era enviado e profeta.

o mais interessante é que se absilva em vez de ser ‘falso’ enviado das nações unidas e ‘falso’ professor fosse verdadeiro não fazia diferença nenhuma.

esse é que é o problema.