Jyoti Singh Pandey

O caso monstruoso da violação e assassínio de uma estudante indiana de 23 anos, que os seis agressores atiraram do autocarro em movimento em Nova Deli e ainda assim tentaram atropelar, é difícil de comentar.

o que dirão por estes dias os amantes das tradições de cada povo? é que ficámos a saber que a violação é aceite na índia, raramente condenada, sempre com leveza, porque a vida de uma mulher não tem o mesmo valor da de um homem. o crime é hediondo porque há uma pessoa torturada como se não tivesse qualquer valor. como se fosse indiferente. até há poucos dias, não sabíamos sequer o nome da vítima. ela era um símbolo de uma índia horrível e violenta, longe do exotismo e da beleza pelos quais é procurada por tantos. mas agora sabemos como se chamava a mulher que vai mudar a história do país: jyoti singh pandey. o nome é uma luz no meio das tentativas para o seu desaparecimento. espero que perdure no tempo como nome de lei severa.

vai, nura

é mais uma história de mulheres no mundo islâmico, desta vez na conservadora arábia saudita. o rei abdullah tenta timidamente ou com sabedoria, depende do ponto de vista, dar mais espaço às mulheres na sociedade e na política saudita. o rei pretende incluir cidadãs sauditas no conselho da shura, que é um órgão consultivo. embora façam parte do conselho desde 2006, teriam uma participação mais activa no processo legislativo. o grande mufti (autoridade máxima no direito e aplicação da sharia) abdul-aziz al-sheik opõe-se. defende que as mulheres devem estar o mais possível separadas dos homens, a fim de proteger a castidade do mal e da corrupção. na luta entre as reformas do estado e as objecções do clero conservador está a vice-ministra da educação para os assuntos das mulheres, nura al-fayez. acredita nas reformas do rei e até tem a audácia de exigir metade dos lugares do conselho, que é composto por 150 membros. força nura na shura, contra os muftis e a sharia!

mon petit gérard

patriotismos à parte, emigrar para não pagar uma taxa de 75% de impostos, é uma razão tão aceitável como qualquer outra. quem tem o direito de condenar aquele que emigra porque não suporta os sogros, porque se sente incompreendido pelos seus pares ou por ter perdido as eleições? a questão é saber para onde ir. o actor ex-francês gérard depardieu escolheu um bom negócio em vez de um bom clima. no lugar dele, com aquela idade e aqueles hábitos, teria procurado outro sítio, mais calmo, menos polémico, onde falassem uma língua conhecida. talvez não aproveitasse os agradáveis 13% de impostos, mas, tal como estamos, até 40% continuava a ser um negócio razoável. porém, reconheceria o português, o castelhano ou o inglês e beneficiaria de um clima 80% mais temperado. claro que também me sentiria na obrigação de ser cordial e simpática com os meus anfitriões. felizmente, só há um putin no mundo.

como viver

é desarmante como os problemas que vemos ser debatidos hoje, como se fossem dramas novos da nossa existência, são na verdade os de sempre. a discussão sobre a saúde tem, deste ponto de vista, interesse porque ilustra preocupações comuns, infelizmente pelos piores motivos. não temos dinheiro para estar doentes, afirmou o secretário de estado fernando leal da costa por outras palavras. é possível que não tenha sido bem isto que disse, mas a discussão é irrelevante, pois foi isto que toda a gente ouviu. o sns é caro e só os utentes podem fazer a poupança que permitirá a sobrevivência dos serviços. como? não os utilizando. mas não se trata de não os utilizar quando estamos doentes. o que o governo pede aos cidadãos é que vivam sem vícios para que não fiquem doentes. o governo sugere, vá-se lá saber com que autoridade, aos cidadãos que façam escolhas saudáveis, que comam bem, que não fumem. enfim, pede que tenham uma vida boa. não deixa de ser engraçado.

o filme é melhor

li um artigo na pacific standard sobre saltos altos. o título é já de si interessante: ‘como é que a evolução explica os sapatos de salto alto?’. acabei de ler o texto e ainda não percebi. ficou claro, obviamente com a ajuda de testes com mulheres a serem observadas por homens, que os sapatos de salto alto tornam as mulheres mais atractivas. os passos curtos a que este tipo de calçado obriga realçam a feminilidade do movimento e as formas. a conclusão é que as mulheres são mais mulheres quando andam com saltos altos e as hormonas masculinas saltitam com mais energia graças ao ritmo e à sua visualização. mas não há neste artigo seco uma única referência às pernas das mulheres, nem sequer aos tornozelos. o estudo, apesar do esforço, não chega aos calcanhares, continuando pelas pernas fora, do início do filme l’homme qui amait les femmes, de françois truffaut, feito sem laboratórios nem cientistas. está no youtube.