segundo um relatório do gabinete de estratégia e estudos (gee) do ministério da economia, o peso das exportações no produto interno bruto (pib) atingiu 39% entre janeiro e setembro de 2012, o valor mais alto desde 2000. as vendas ao exterior representam, hoje, muito mais na economia do que nos primeiros anos do euro (média de 28% do pib até 2005), ou mesmo nos anos de euforia do crédito (entre 2006 e 2008), quando este indicador atingiu uma média de 32%.
contas feitas, portugal tem hoje uma economia mais exportadora (peso das exportações no pib) do que o reino unido (32%), espanha (30%), itália (28%), frança (27%), países conhecidos por serem potências industriais e de serviços na europa.
o sonho de álvaro
porém, ainda que portugal esteja quase à beira de atingir os 40% do pib e a aproximar-se do objectivo do ministro da economia, álvaro santos pereira – defensor de que a economia portuguesa devia exportar o equivalente a 50% do seu produto –, a verdade é que estes valores derivam mais da queda abrupta do investimento privado e público (mais de 25% entre 2011 e 2013), bem como do consumo das famílias portuguesas (mais de 10%). ou seja, o sucesso do sector exportador é real – o país vende mais e para mais mercados – , mas também é artificial – uma vez que o pib está a cair com a austeridade e a ‘empolar’ um perfil de verdadeiro exportador, que portugal ainda não tem.
tecnologia ausente
os dados do gee revelam uma maior diversificação de mercados, com a importância da europa para as empresas lusas a recuar, de 82% em 2000, para cerca de 76% em 2011. neste período, portugal começou a vender mais para espanha – recorde-se a aposta de sócrates «espanha, espanha, espanha» – e menos para a alemanha e reino unido.
o grande destaque vai, no entanto, para os mercados africanos, cujo peso nas exportações triplicou em 10 anos, assente quase em angola – para onde vão 90% das vendas a áfrica. este efeito fez as exportações para os mercados fora da zona euro atingirem, em setembro de 2012, um novo recorde. estes destinos são agora responsáveis por 33% das vendas totais, um peso que é 50% superior ao que se verificava no período pré-crise internacional de 2008.
mas os dados do gee mostram também outra tendência menos positiva: os produtos com baixa intensidade tecnológica – menos diferenciados – têm tido maior relevância. e isto é um risco crescente face à concorrência de países emergentes, que produzem o mesmo e muito mais barato.
cerca de 62% dos produtos exportados por portugal, entre janeiro e setembro de 2012, tinham um teor tecnológico baixo e médio-baixo – valor mais alto desde 2000. e a fatia dos produtos com elevado valor tecnológico (7,2% do total) emagreceu, em 2012, quase metade do peso que tinha nos primeiros anos do euro (12%).
portugal tem tido um comportamento positivo na exportação de serviços, que aumentaram de 27% para 30% do total das exportações. em produtos, assistiu-se a um forte crescimento dos químicos, alimentos, produtos minerais e energéticos, que quase duplicaram a presença na matriz exportadora de portugal do vestuário, calçado e têxteis.
as exportações têm sido o único motor a evitar uma queda maior da economia nos últimos dois anos. porém, após um comportamento muito forte em 2010 e 2011, as vendas ao exterior começaram a abrandar em meados de 2012. em novembro, as exportações quase estagnaram (subida de 0,1%) face ao mesmo mês de 2011, segundo dados do instituto nacional de estatística (ine), divulgados nesta quarta-feira.
e para 2013 as previsões já foram revistas em baixa, apontando um crescimento das exportações na casa dos 3% ou menos.