Governo cede às fundações

As fundações tinham até à passada quarta-feira para aprovar os seus novos estatutos e orgânicas, à luz da lei-quadro aprovada em Julho. Mas, no dia em que expirava o prazo, o secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Luís Marques Guedes, assinou um despacho que concede mais seis meses (ou seja, até 9…

este gesto do governo vai ao encontro de uma das reivindicações feitas pelas fundações – que nos últimos meses, já depois de promulgada a nova lei, se desdobraram em contactos para pressionar o executivo. o conselho português de fundações (cpf), presidido por artur santos silva, foi recebido, nomeadamente, pelo presidente da república.

no despacho, a que o sol teve acesso, marques guedes justifica a prorrogação com as «dificuldades invocadas pelo cpf no que diz respeito ao novo regime jurídico, designadamente por parte das fundações de menor dimensão». e reconhece que a penalização para as fundações que não tenham revisto ou adaptado os seus estatutos causaria «sérios constrangimentos ao seu normal funcionamento».

segundo a lei-quadro, as fundações estão obrigadas a ter estatutos mais claros e transparentes – indicando, nomeadamente, os destinatários da sua actividade, a dotação financeira inicial, o modo de financiamento e os órgãos que as compõem. se não o fizerem, podem perder o estatuto de utilidade pública.

avaliação continua a ser contestada

mas este adiamento do governo não sossega o cpf, que continua a contestar a forma como foi elaborado o ranking das fundações e os critérios para os cortes dos subsídios. num documento entregue ao governo, ao parlamento e ao presidente da república, o conselho insiste que o censos realizado fez «uma avaliação incongruente» das fundações, causando um «injustificado dano no seu bom nome», e rejeita que as fundações sejam entendidas pelo governo como «um estado paralelo» e «um sorvedouro de dinheiro público», em vez de este ter feito «uma apreciação individual do custo/benefício».

recorde-se que foi com base neste censos que o governo cortou cerca de 30% do financiamento a grande parte destas instituições – como a fundação mário soares, o inatel ou a casa do gil. a casa da música, que tinha um corte previsto de 20%, passou para 30%, decisão anunciada pelo novo secretário de estado da cultura e que levou à demissão, em dezembro, da administração desta fundação.

helena.pereira@sol.pt