as sociedades não podem continuar a consentir que as pessoas envelheçam mal. temos ‘anos europeus’, temos grupos de trabalho, temos colóquios sobre o envelhecimento. mas temos, também, as novas realidades do aumento da esperança de vida e a vontade de muitas pessoas continuarem a trabalhar para além da idade da reforma convencionada na lei.
em portugal, em 2012, aumentou 7% o número de pessoas com mais de 65 anos na vida activa. na santa casa da misericórdia várias pessoas, com essa idade, me têm dito que não querem ir para casa, que pretendem continuar a trabalhar. e procuramos sempre corresponder a tal vontade que em nada impede as rescisões por mútuo acordo para quem as deseje ou aceite.
o que não é tolerável para ninguém é que não tenhamos imaginação para tornar diferentes os tempos da vida em que muitos são colocados em ‘depósitos de pessoas com mais idade’. enquanto se tem vida, importa nunca estar resignado, sentado, descrente, à espera que ela termine. a atitude tem de ser sempre esperar mais vida e vivê-la com toda a energia física e psicológica de que se disponha.
quem, como eu, dirige instituições com responsabilidades nestas áreas, tem de ser capaz de imaginar, conceber, criar novas soluções, novos modelos, novas propostas.
estamos na ‘era da inovação’.
também aqui ela tem de ser aplicada. a comissão europeia, por exemplo, tem muito trabalho e vários programas de investigação e de aplicação na desafiante área das tic na idade maior. é esse o caminho. diz o povo – e com razão – ‘parar é morrer’. há que trabalhar sempre, fazer exercício, criar, aprender. olhe-se para manoel de oliveira. com mais de 80 anos, era eu secretário de estado da cultura, e ele todos os anos levava um novo projecto. atente-se em mário soares, com 88. não tem parado e todos contamos com o seu rápido restabelecimento.
enganar as pessoas
muitas vezes penso que, daqui a 50 ou 100 anos, os nossos descendentes dirão que nós puníamos as pessoas enjaulando-as em espaços próprios de animais. algo do género do que pensamos, hoje em dia, sobre os divertimentos dos romanos e de outros povos, quando atiravam pessoas e leões para a arena.
defendo que quem mata alguém – ou atenta, com gravidade, contra a integridade física de alguém – deve ser preso. mas enjaular pessoas por crimes económicos, por crimes fiscais ou por crimes equivalentes não faz sentido. não o faz, até, pelas famílias. mulheres, maridos e, principalmente, filhos ‘pagam’ sem terem feito nada de mal.
nesse tipo de crimes as pessoas devem ter outro tipo de penas: trabalho para a comunidade, trabalho ao fim-de-semana, cativação de parte do vencimento até ressarcirem os lesados no montante considerado adequado pelo tribunal. desenvolvi esta ideia desde que visitei o estabelecimento prisional de lisboa e lá conheci vários jovens que aguardavam, em prisão preventiva, há vários meses, julgamento por crimes que poderiam ser punidos de outro modo.
na verdade, pessoas dentro de jaulas sem terem atentado contra a vida de alguém, sem terem violado, sem terem ferido gravemente uma pessoa, sem terem usado violência, não concordo.
equiparo, porém, aos crimes mais graves o tráfico de armas ou de droga e a corrupção.
e sou defensor da pena de prisão perpétua para quem tire a vida a outra pessoa. não defendo a pena de morte, até pela questão do erro judicial.
como fica escrito, discordo muito da lógica do sistema penal da generalidade das sociedades contemporâneas. também não tenho nenhuma solução perfeita nem qualquer modelo acabado. apenas avanço linhas de pensamento.
os comentários na net
faz-me cada vez mais impressão o nível de muitos comentários, muitos ditos, muitos escritos na internet.
resolvi juntar este tema aos anteriores quando li alguns comentários à notícia do internamento de mário soares. foi apenas mais um exemplo – porque, infelizmente, todos os dias são publicados chorrilhos de asneiras, ofensas, calúnias sobre as mais variadas pessoas das mais diversas condições.
lá está: tal como nos lares de idosos, tal como nas celas das prisões, também nos espaços da net o estádio da civilização ainda não permite que se mude essa realidade. o conceito de liberdade em vigor e o nível de respeito e de educação que se tem generalizado não consente o erradicar dessas manifestações de falta de princípios e de valores, para já não falar de falta de educação.
ao fim e ao cabo, os três pontos têm em comum o modo como olhamos, respeitamos, tratamos o ser humano.
não sou fã de utopias, nem tenho paciência para trabalhar para o que não é realizável. mas tenho gosto e empenho em lutar pelo que pode mudar, somando muitos esforços individuais.