Dito&Feito

António Costa resolveu que era agora o momento de pôr abertamente em causa a liderança de António José Seguro no PS. E engendrou a tese de que a má relação de Seguro com o consulado e a herança de Sócrates no PS deixou o partido «diminuído» e «sem capacidade de confrontação» política.

nem de propósito, apareceram logo a seguir alguns órfãos do socratismo – de pedro silva pereira a josé lello, passando por vieira da silva e santos silva – a exigir a seguro que realize o congresso do ps antes das autárquicas de setembro/outubro. com o receio evidente de, a seguir à mais do que previsível vitória do ps nas autárquicas, já não conseguirem tirar de lá seguro.

percebe-se a intranquilidade de antónio costa. quanto mais não seja, pela calamitosa demonstração de inabilidade para a liderança que seguro deu ao país nesta última semana. o líder do ps começou pela acusação tonta de que o governo de passos «não tem mandato» para fazer cortes de 4 mil milhões na despesa do estado, passou rapidamente a falar de eleições e a anunciar que irá «pedir aos portugueses uma maioria absoluta», saltando de imediato para a revelação de que irá «surpreender os portugueses na altura de apresentar os nomes» de um futuro governo do ps. é a típica fuga para a frente, desenfreada e irreflectida, de quem revela um notório défice de consistência política e é incapaz de apresentar qualquer proposta credível para combater a crise em que o país vive.

antónio costa, que goza de boa imprensa e não tem oposição política que se veja na câmara de lisboa, aproveita para admoestar seguro, a propósito da governação de sócrates: «pode criticar-se o passado ou elogiar-se o passado, não se pode é fingir que o passado não existe».

no caso de costa, sabemos bem de que lado está e esteve. quando não fez uma única crítica a sócrates pelo regabofe das ppp, pelo aumento sem limites nem decoro do despesismo público, ou pelas tentativas de condicionamento e controlo da comunicação social. quando nem uma palavra se lhe ouviu nos meses em que sócrates levava o país à bancarrota. costa, está visto, não pode fingir que o seu passado recente não existe.

jal@sol.pt