Quem nos dera

O debate no Palácio Foz sobre a reforma do Estado parece não ter tido o resultado desejado. Com o controlo da informação, impedindo que os jornalistas atribuíssem as citações aos autores das mesmas, a organização pretendia limitar o ruído sobre a discussão.

mas o ruído lá estava à mesma nos dias seguintes, com as observações sobre as regras. a pessoalização do debate é um hábito infeliz entre nós, mas o que é certo é que os responsáveis políticos e os eleitos da sociedade civil não devem temer a selva dos comentários. assim parece que há um medo do país sobre o qual, afinal de contas, se pretende conversar. ora, mostrar medo das interpretações das pessoas é o pior que o governo pode fazer neste momento tão delicado. sem fazer a reforma do estado, portugal até pode voltar aos mercados, mas será para pedir dinheiro emprestado e, mais uma vez, atirar dinheiro aos problemas que não chegou a resolver. o ruído não é um deles.

tomou posse

a cerimónia de tomada de posse de barack obama para o segundo mandato como presidente dos estados unidos da américa, no capitólio, perante cerca de 800 mil pessoas, aconteceu no feriado de martin luther king jr. o valor simbólico do dia foi aproveitado por obama para fazer um discurso de esperança e união, mas também para lembrar que essa união só será possível se houver igualdade. a igualdade de que obama falou está longe do que costumamos ouvir sobre o tema. é uma igualdade que respeita o facto de sermos todos diferentes. não são a cor, a orientação sexual, a família, o género e a idade que vão condenar as pessoas à falta de oportunidades na vida e à pobreza. uma menina de uma família pobre não deixará de ter a oportunidade de ir à escola e enriquecer. pode não ter sido uma tomada de posse esfusiante, mas o discurso esteve à altura do dia. talvez a tarefa principal de um governante seja a de inspirar as pessoas.

gostar de homens

zero dark thirty, de kathryn bigelow, sobre a operação da cia para matar osama bin laden, é um excelente filme. bigelow gosta de homens, por isso a guerra interessa-lhe. o facto de a protagonista ser uma mulher é uma maneira de estar ela própria no meio da narrativa. não creio por isso que maya seja um símbolo especial de nada. não pude deixar de reparar na beleza masculina presente em quase todas as cenas. os actores são uns grandes borrachos. e são muitos. e não é só isso. as personagens masculinas revelam uma série de expectativas das mulheres relativamente aos homens. por exemplo, os batedores, que têm como missão entrar na casa onde a operacional da cia acredita estar bin laden, são giros e fortes, cavalheiros e corajosos. não são rudes nem estúpidos e até na desconfiança são gentis. não têm a certeza se a teoria de maya estará certa, mas são respeitosos e mostram que estão do lado dela. zero dark thirty é sexy. quem diria?

dá com tudo

dizem que antónio josé seguro está sedento de poder. bem olho para o candidato socialista a primeiro-ministro e tento perceber onde está a ambição de que falam, mas só vejo uma pessoa aterrorizada com o plano que os outros decidiram para si. em declarações recentes, seguro afirmou não ter condições para prometer uma baixa de impostos. não é que queira continuar a ouvir promessas mentirosas de aspirantes a governantes, mas esta não parece ser a melhor abordagem à verdade. a solução está nos eleitores, que devem passar a ignorar as promessas eleitorais. não ficará nada das campanhas, mas pelo menos ninguém sairá enganado. noutra declaração, seguro afirmou querer uma maioria absoluta para governar à vontade. já se sabe que sem maioria ninguém faz nada determinante em portugal. resta saber qual é a desculpa para não fazer nada de especial quando a ambicionada maioria existe. mas eu só ouvi que seguro quer uma carteira preta chanel.

cão expiatório

chego tarde ao tema que tem agitado a sociedade portuguesa, porque há dúvidas no ar. falo da necessidade de abater o pitbull terrier que terá matado uma criança. pelo que sei, decorre um inquérito para apurar o que se passou. pelo que vi, o cão tinha as orelhas cortadas, um possível indicador de ser treinado para lutas. pelo que nos informaram, a criança deu entrada no hospital com um «traumatismo cranioencefálico grave». pelos rumores que correm, a criança não tinha marcas de dentadas nem havia sangue no cão. mas abater o pitbull não impede outros ataques de cães, treinados para lutar ou mantidos em más condições. o conceito de responsabilidade não é válido para não humanos. nos e.u.a., com excepções, a pena de morte não se aplica a pessoas com um qi abaixo de 70. são mais parecidos com os bichos. e o apelo à segurança por daniel oliveira é um falso problema. ou o próximo passo consiste em abater os crocodilos no mundo?