Uma manifestação silenciada

Os franceses manifestaram-se em Paris, no domingo, 13 de Janeiro, contra a lei que, se aprovada, permitirá o casamento e a adopção por casais de pessoas do mesmo sexo.

centenas de milhares de pessoas (340 mil segundo a polícia, um milhão segundo os organizadores) participaram numa manifestação imensa que durante horas percorreu paris através de três itinerários diferentes, para convergir finalmente no champs-de-mars. lá, cantaram a marselhesa e prometeram que a luta vai continuar.

os nossos media, na generalidade, ignoraram este acontecimento.

a esquerda francesa que nada fez para melhorar a situação económico-social aposta neste projecto: é simbólico, satisfaz o lobby político-intelectual da supercorrecção política que quer estender a igualdade civil e política a todos os domínios sociais, incluindo o género e a espécie.

os resistentes à lei que vai ao parlamento a 29 de janeiro mobilizaram-se desde novembro, em paris e noutras cidades francesas. são uma frente ampla que vai desde católicos tradicionalistas até conservadores laicos e republicanos de esquerda. e há homossexuais que não se reconhecem nos lobbies encartados.

fazem parte desta coligação: tugdual derville, da alliance vita (uma associação de defesa da família fundada em 1993) mais os líderes das principais confissões religiosas – da igreja católica, o cardeal andré vingt-trois, presidente da conferência episcopal; o pastor claude baty, da federação protestante da frança; mohammed moussaoui, do conselho francês de culto muçulmano; o grande rabino de frança, gilles bernheim; os ortodoxos.

mas está também xavier bongibault, homossexual e ateu que declara: «nós fomos feitos reféns por uma minoria de activistas sectários que obriga ao silêncio a maioria dos homossexuais. o que faz com que seja impossível pronunciar-se contra o casamento e a adopção sem se ser tratado de reaccionário, de homófobo, pelos militantes lgbt (lésbicas, gays, bi, transsexuais) e os do act up». para bongibault estes grupos querem, abusivamente, assumir a representação dos 3 milhões de homossexuais franceses. o seu grupo – plus gay sans mariage, integrou a manifestação.

a mesma posição assume laurence tcheng, uma militante socialista próxima dos ‘poissons-rose’ (os católicos de esquerda do ps) e que sublinha a contradição do poder – «como imaginar que françois hollande, que faz da concertação e do diálogo um método de governo, se recuse a abrir o debate?».

com uma maioria absoluta no parlamento, fruto do sistema eleitoral (a frente nacional de marine le pen, que teve 18% de votos nas presidenciais, tem um deputado na assembleia) e receosa do referendo que a maioria dos eleitores pretende, a esquerda prepara-se para aprovar esta lei que muda radicalmente a natureza da família e da sociedade francesas.

mas a principal porta-voz da resistência, frigide barjot, uma humorista popular, ‘católica-nova’ que tem sido grande animadora do processo de mobilização, diz que a manifestação foi só um princípio e que a luta vai continuar.

hoje, sexta-feira 25, o presidente hollande recebe-a no eliseu.