os belgas tg stan (presença habitual nos palcos portugueses, a que já trouxeram peças como mademoiselle else, de schnitzler, nora, de ibsen e anathema, de josé luís peixoto) vieram a lisboa apresentar dois espectáculos: le chemin solitaire (o caminho solitário), de arthur schnitzler, sobre uma família burguesa com todas as suas mentiras, traições, segredos e adultério, que subiram ao palco do teatro maria matos a 30 e 31 de janeiro, e les estivants (os veraneantes), de maximo gorki, sobre um grupo de amigos intelectuais que se reúne numa casa de campo enquanto o seu país colapsa, sobe ao palco da culturgest a 2 e 3 de fevereiro.
sara de roo, actriz que em les estivants dá vida a olga, salienta em conversa por telefone com o sol que, para os tg stan, é uma enorme satisfação ter em cena a peça russa, devido à conjuntura que a europa atravessa. «este texto fala sobre o nosso mundo actual, sobre a nossa situação no ocidente e a nossa incompetência em lidar com o mundo. de uma perspectiva política, estamos muito felizes de ir a portugal». escrita em 1905, uma década antes da revolução russa, a peça de gorki debruça-se sobre as mudanças sociais.
«de um lado há personagens com uma boa vida, intelectuais, escritores, médicos, professores, que não se preocupam com os problemas da sociedade, que querem deixar tudo como está porque estão confortáveis nas suas vidas burguesas. e, do outro, personagens que estão conscientes das injustiças no seu país e no mundo, que tentam escapar e acordar os outros. uma classe pobre que tomou consciência da sua situação e começou a lutar pelos seus direitos. isso pode ser transposto para hoje».
num registo muito menos político está le chemin solitaire, sobre os dramas íntimos de uma família e os seus enganos: a acção é precipitada pela morte da mãe, altura em que um dos filhos descobre que o seu pai biológico é um pintor por quem a mãe se apaixonou anos antes e não o homem estável que o criou. «schnitzler está mais interessado nas emoções e nas relações humanas. mas esta é também uma peça muito actual, que se debruça sobre o meio burguês, os seus segredos e aparências».