Troika disponível para abrandar austeridade

Pedir mais tempo para cumprir o défice, alargar o prazo de pagamento dos empréstimos ou pedir um alívio na austeridade são três soluções que Portugal poderá conseguir negociar com sucesso junto da troika ao longo deste ano.

esta possibilidade abre-se com os sinais de flexibilização dados, nas últimas semanas, tanto pela comissão europeia como pelo fmi, e da mudança de discurso, em termos gerais, sobre a receita na solução para a crise do euro.

de uma posição inflexível sobre o nível de austeridade e o cumprimento de metas orçamentais, os credores externos passaram a autorizar derrapagens de défices, medidas extraordinárias, descidas de juros e a admitir, por fim, que é mesmo necessário colocar um travão nas políticas severas.

só desde o início do ano, a troika decretou que não vai exigir mais austeridade à grécia nos próximos seis meses. o fmi sugeriu à irlanda que abrande a fórmula de rigor este ano se a economia desacelerar, ao mesmo tempo que alertou o reino unido que o plano de aumento de impostos e cortes na despesa do estado, previsto por londres, poderão ser «um grave erro». e bruxelas decidiu que vai autorizar, pelo segundo ano consecutivo, a derrapagem do défice a espanha, bem como aliviar as exigências à banca europeia para estimular o crescimento.

o tempo dirá se as mudanças de atitude na troika serão temporárias ou para ficar. o novo discurso mais pró-crescimento e a abertura a novas flexibilizações decorrem, em parte, do efeito das eleições alemãs em setembro, adianta uma fonte comunitária ao sol. a política de bruxelas – dominada por angela merkel – vai querer passar a imagem ao longo do ano de que o euro foi salvo, que as economias da periferia estão mais disciplinadas e que a economia não está de rastos. por isso, a mesma fonte admite que se multipliquem as mensagens de bruxelas de que o pior já passou e sejam concedidas novas facilidades aos países. o eventual alívio do plano de 4 mil milhões de cortes no estado é um candidato.

as previsões económicas vão ser revistas já na próxima visita da troika e a estimativa de queda do pib de 1%, feita pelo governo, poderá cair para o patamar mais próximo do avançado pelo banco de portugal e ocde (1,9% e 1,8%, respectivamente).

luis.goncalves@sol.pt