Deslavado

No calor de uma mais uma declaração indignada, Arménio Carlos, líder da CGTP disse que «daqui a pouco vêm aí outra vez os três reis magos, um do Banco Central Europeu, outro da Comissão Europeia e o mais escurinho, o do FMI, e já se fala em mais medidas de austeridade».

da esquerda à direita soaram acusações nada menos que indignadas de racismo à descrição de arménio carlos sobre o chefe da missão do fmi para portugal, abebe selassie. penso que se confundiu racismo com pura e simples falta de educação. o líder da cgtp tentou fazer uma gracinha que chegasse ao povo e não teve piada nenhuma. também não lhe saiu bem a referência aos três reis magos, que até trazem ouro, incenso e mirra sem pedir juros em troca nem impor medidas de austeridade e exigências de empobrecimento. os reis magos chegam num momento de celebração e felicidade e não num tempo sombrio e desolador. por que é que os dirigentes políticos nunca acertam nas referências?

uma questão de dentes

o dr. king schulz (christoph waltz) é um caçador de prémios que se apresenta como dentista e que anda numa gerigonça puxada por um cavalo com um dente grande a balouçar numa mola. calvin candie (leonardo dicaprio) é o vilão de candyland, onde está broomhilda, a mulher de django. candie tem maus dentes. o rigor de tarantino tem de ser encontrado por cada um e aparece no próprio filme e não em pormenores históricos, como as lutas madingo nunca terem existido, a dinamite só ter sido inventada depois da guerra civil e as portas de saloon só terem aparecido depois da guerra, como refere scott reynolds nelson, no the chronicle review. tarantino parece mais interessado em mostrar que a exploração das pessoas por outras tem de certeza consequências. numa das melhores cenas, os membros de um ku klux klan quer perseguir schulz e django, mas os panos brancos que usam para cobrir a cabeça têm buracos pequenos para os olhos. é bom rir da estupidez dos maus.

os conflitos eternos

o século xix norte-americano parece estar na moda. é indiscutível que se trata de uma época histórica interessante. grandes filmes como django libertado ou lincoln, quer sejam ficção ou não tanto, têm aspectos da história americana em comum que despertam a curiosidade. gostava de acrescentar uma série de televisão pouco promovida, onde se recria a nova iorque que conhecemos tal como existiria durante a guerra de secessão. a série chama-se copper, é realizada pela bbc américa e produzida por barry levinson e tom fontana, entre outros. os protagonistas são um detective atormentado de origem irlandesa e os seus dois companheiros de armas: um médico afro-americano com competências especiais para uma incipiente medicina forense e um aristocrata nova-iorquino. a acção passa-se no sul de manhattan, onde o crime de rua se mistura com os problemas raciais e a política, tendo a guerra como pano de fundo. é no canal fox e recomendo vivamente.

companhia no tédio

está no youtube (www.youtube.com/watch?v=pmc5xmclccm) e vale a pena ver. em ask tina, da nbc, tina fey critica sem dó nem piedade a actividade intensa e inútil no twitter. não se queixa de insultos nem de ameaças nem de stalkers com borbulhas e demasiado tempo livre. o problema de tina fey com o twitter é o maçador que os utilizadores podem ser. a grande seca twitteira de que fala não tem que ver com a agressividade presente no meio (ou em que tudo o que seja internet), mas com a falta de interesse que têm a maior parte dos tweets. e são desinteressantes porque em muitos casos o twitter funciona como uma espécie de chat de gente que se conhece e que fala entre si com público a assistir. em vez de se encontrarem… assim, conversas privadas passam a ser públicas, mas não com o acordo dos outros. deve ser a isto que chamam exibicionismo. mas para quê exibir o que há de mais aborrecido? para ter companhia no tédio. só pode ser.

spielberg vs. nasa

as campanhas publicitárias da axe são divertidas. na mais recente série de anúncios, vemos raparigas giras a serem salvas das terríveis chamas ou de um terrível tubarão por heróis proporcionalmente giros. tanto o bombeiro como o nadador-salvador são umas brasas. no momento romântico de gratidão, as vítimas resgatadas olham para o lado e abandonam de imediato os respectivos heróis por um astronauta aparecido do nada. a mera visão desta personagem espacial faz esquecer o perigo vivido instantes antes e o salvamento espampanante. elas correm na sua direcção. no fim, vemos uma frase esclarecedora: ‘ninguém bate um astronauta’. rio-me sempre, apesar do anacronismo. não digo isto só por os planos da nasa estarem suspensos, mas também porque no top do mercado dos sedutores, os galãs de cinema nunca deixaram de ter o seu lugar marcado e os desportistas continuam em alta. mas, de facto, se pensarmos bem: quem resiste a um astronauta?