Países vizinhos devem financiar barragens em Moçambique

Em Chókwè, na província de Gaza, sul de Moçambique, os habitantes tentam o regresso à normalidade, numa cidade atolada em detritos, lixo urbano, águas estagnadas. Milhares de moçambicanos continuam sem tecto, abrigados em centros de acolhimento onde as condições são precárias.

a ajuda da sociedade civil, de empresários, comunidades religiosas, embaixadas está a chegar mas é ainda insuficiente. o banco mundial anunciou um novo empréstimo de 700 milhões de dólares, a pagar em 50 anos, sem juros. mas, diz a oposição política moçambicana, é preciso mais.

é preciso evitar novas cheias, com a construção de barragens – e estas deviam ser em parte pagas pelos países do interland (malauí, zâmbia, zimbabué), os vizinhos que abriram as comportas das suas barragens, aumentando para lá do limite suportável o caudal dos rios que alagaram moçambique.

cobrar mais aos países vizinhos

«o governo deve saber encontrar saídas diplomáticas para ir buscar a verba necessária para estas obras porque há um dado que joga a nosso favor: estes países necessitam dos portos de moçambique para o transporte dos seus produtos», sublinhou fernando mazanga, porta-voz da renamo, ao sol.

segundo mazanga, o estado moçambicano poderia assinar acordos com a nações vizinhas para aumentar o valor que pagam pela utilização dos portos nacionais – e a taxa extra serviria para custear as obras das barragens.

a sugestão de fernando mazanga pretende responder à falta de verbas, assumida pelo governo, no dia 3 de fevereiro, na praça dos heróis moçambicanos, para construir e reparar estas infra-estruturas imprescindíveis no controlo das cheias, em particular nos rios limpopo e elefantes, na província de gaza, e búzi e púnguè, em sofala e manica.

o presidente armando guebuza reconheceu também que, para evitar inundações na bacia do limpopo, é preciso que se construa a barragem de mapai nesse rio, e que se repare os diques de protecção da barragem de massingir no rio dos elefantes, e a de macarretane. «é preciso ter diques mais resistentes que possam proteger [a bacia do limpopo das inundações]», assegurou o chefe do estado.

guebuza admitiu ainda que há também a necessidade de construir barragens nos rios púnguè e búzi, em sofala, para reduzir o impacto da violência das águas nas zonas circunvizinhas sempre que chega a época chuvosa.

um problema antigo

o vice-presidente da bancada parlamentar do movimento democrático de moçambique (mdm), agostinho ussore, considera que o governo não está muito preocupado em resolver, de uma vez por todas, os danos causados pelas inundações. para ussore, as inundações no país são um problema tão antigo e presente que já deveria ter tido uma solução definitiva.

«quase que anualmente, quando chega a época chuvosa, registamos prejuízos causados pelas inundações. e a única coisa que o governo sabe fazer é assistir e lamentar estas destruições», avançou ao sol.

o dirigente do mdm afirma que é necessário que o governo desenhe e implemente urgentemente políticas de controlo e aproveitamento sustentável das águas. «se a água for retida na barragem pode ser usada pela população para irrigar as suas plantações», defendeu o parlamentar.

agostinho ussore acusa os administradores da barragem de massingir e o próprio governo de moçambique de desleixo, no que diz respeito à manutenção desta barragem. «uma das causas das inundações na cidade de chókwè é a avaria dos diques de defesa da barragem de massingir», criticou.

fernando mazanga também considera que as inundações na bacia do limpopo são resultado da falta de vontade do governo em criar sistemas de controlo das águas das chuvas e utilização sustentável deste precioso líquido.

em reacção a estas declarações, edmundo galiza matos, que lidera a bancada parlamentar da frelimo, afirmou ao sol que «o governo está empenhado em encontrar o mais rápido possível as soluções para resolver o problema causado pelas cheias. existem projectos na mesa mas precisam de dinheiro» – as verbas poderão ser encontradas junto dos doadores.

adamo.halde@sol.co.mz