ninguém percebeu o recuo de costa e a perplexidade ocupou a esfera do comentário político. passados estes dias de fresca incerteza, está na altura de recuperarmos um tom de convicção. encontramos uma resposta aos porquês no perfil de antónio costa. o seu percurso político sereno mostra que não é desafiador, não ao ponto de provocar uma ruptura no partido. as expectativas em torno de uma mudança que protagonizaria foram criadas por defeito: a fraqueza dos seus oponentes fizeram de costa uma esperança para quem queria uma mudança no ps. ficou o recuo num momento crítico e a certeza de que antónio costa não é a pessoa mais indicada para liderar o país.
tudo mal
a polémica em torno da nomeação de franquelim alves tem abafado aquele que, a meu ver, é o maior problema desta remodelação governamental: a criação de mais uma secretaria de estado; a saber, a da alimentação e da investigação agro-alimentar. a oposição está tão preocupada com a figura escolhida que se esqueceu de pôr em causa a existência de mais uma secretaria de estado num momento em que os contribuintes são chamados a deixar uma parte mais que substancial dos seus rendimentos às finanças. a austeridade não é tida em conta na altura de criar mais um organismo do estado e as explicações sobre para que serve, que utilidade tem e quanto custa a todos nós não são sequer exigidas no parlamento. a que propósito é criada mais uma secretaria de estado? quanto vai custar? que funções vai desempenhar? quantos contribuintes vão ter de se sacrificar e viver pior para dar de comer às dezenas de assessores, etc.? assim não dá.
nada de novo
está a haver uma discussão no reino unido sobre a privacidade dos menores nas redes sociais. por um lado, temos os conselhos sensatos sobre não expor fotografias da vida privada. por outro, há conselhos mais radicais, como não permitir nenhuma privacidade aos filhos menores. a alternativa de dar conselhos previdentes é boa, mas sabemos, por experiência própria, que os adolescentes são por natureza temerários e imprudentes. abolir abertamente a privacidade, apesar de parecer uma medida eficaz, pode provocar ressentimento, clandestinidade ou pior. por mim, faria aos jovens o que a polícia faz aos adultos: operações stop. pelo menos uma vez por mês, sem aviso prévio, vasculhava computador, tablet e telemóvel, tudo na presença do utilizador, e assim identificava os interlocutores. antigamente os pais liam os diários pessoais às escondidas e ouviam ou filtravam as conversas telefónicas. controlar e cuidar sempre fizeram parte da educação.
mandar calar
li um artigo na salon sobre o que os americanos esperam das bibliotecas públicas. um inquérito do pew research center concluiu que os dois serviços considerados mais importantes são a disponibilidade do bibliotecário para dar informações e poder levar livros emprestados. em terceiro lugar está o acesso livre à internet e em quarto aparece aquela razão que deveria estar entre os primeiros lugares de preferência: o silêncio. é certo que se pode ir a uma biblioteca requisitar um livro e não ficar lá a lê-lo. mas para os que frequentam bibliotecas e por lá ficam a ler e a escrever, o silêncio é obrigatório. o artigo fala do bibliotecário à antiga, que fazia um chiu eficaz quando o burburinho se tornava intenso. é uma profissão que deixou de existir com estas características. agora ninguém na biblioteca manda calar nenhuma criatura a falar ao telemóvel. as bibliotecas eram o último reduto de silêncio em locais públicos. até isso acabou.
fui criminosa
uma lei parisiense nunca aplicada e com duzentos anos foi revogada pelo parlamento francês. as mulheres estavam proibidas de usar calças, a não ser para andar de bicicleta ou a cavalo. e estas duas excepções foram promulgadas no início do século passado. na anulação ficou clarificado que a lei «era contra os princípios de igualdade entre homens e mulheres que está inscrita na constituição e nos compromissos europeus franceses». estou impressionada. mas porque é que a base para a revogação da lei é a igualdade de género e não a liberdade individual? deve ser mais fácil justificar politicamente a derrogação da lei em nome da moderna igualdade entre homens e mulheres do que reconhecer um hábito talibã de vigiar os hábitos e os costumes das mulheres. ainda por cima na mitologicamente devassa paris. mas agora está tudo bem. fico mais descansada por poder andar à vontade de calças em paris. não há nada pior do que estar ilegal.