os efeitos recessivos da política dos credores internacionais (fmi, bce e ce) e do ‘além troika’, decretado por passos coelho, continuam a surpreender pela negativa e a superar as estimativas do governo. a realidade é que, apesar de algum alívio na frente financeira, portugal continua sem dar sinais de retoma.
no último trimestre de 2012, a economia portuguesa sofreu a maior queda dos últimos três anos, destruiu mais de 125 mil emprego e viu as vendas para os seus maiores mercados afundarem.
o produto interno bruto (pib) contraiu 3,8% nos últimos três meses de 2012, face ao período homólogo, naquele que foi o pior trimestre desde a intervenção externa em 2011, com base nos dados do instituto nacional de estatística (ine) divulgados na quinta-feira. em comparação com o período de julho a setembro (queda de 0,9%), as notícias não foram melhores. a economia contraiu 1,8%.
com uma recessão mais profunda do que a estimada em 2012 (3,2% do ine contra 3,0% do oe2013) e com um desvio de 600 milhões de euros nas receitas fiscais, o executivo inicia assim o ano obrigado a rever em baixa as estimativas macroeconómicas com a troika já este mês, durante a sétima avaliação ao país, que arranca a 27 de fevereiro. a correcção deverá ser próxima dos valores avançados pelo banco de portugal (queda de 1,9% do pib).
ainda este mês, o executivo vai pedir o adiamento do plano de corte de 4 mil milhões na despesa do estado à troika (ver pág.4 e 5). em bruxelas, espera-se que lisboa peça algum alívio na austeridade durante o conselho europeu de 4 e 5 de março – seguindo as pisadas de espanha, irlanda e grécia – e aproveite a luz verde de mais tempo para pagar os empréstimos da troika.
alerta do bdp confirma-se
no terceiro trimestre de 2012, o ine justificou a queda do pib com o menor investimento. desta vez, as exportações foram as grandes responsáveis pela quebra registada, tal como já tinha alertado o bdp há um mês. resumindo, a economia nacional está há nove trimestres (mais de dois anos) em contracção consecutiva e há um ano em queda crescente.
a entrada da troika eclipsou primeiro os ‘motores’ do investimento público e do consumo privado. a restrição do crédito pela banca travou, de seguida, o investimento das empresas. por fim, o contágio da crise do euro a toda a região desligou o último motor que restava à economia portuguesa, as exportações.
apesar de, no global de 2012, as vendas ao exterior terem subido 5,8%, a performance na recta final do ano fez soar os alarmes no governo, que veio pela primeira vez, na voz do primeiro-ministro, admitir corrigir os números do orçamento do estado 2013 (oe).
entre outubro e dezembro, as exportações para espanha, alemanha e frança – os três maiores destinos externos de portugal, responsáveis por 45% do bolo das exportações – recuaram 5,7%, segundo dados do ine. para o mercado extracomunitário – que registou uma subida em 2012 de 20% – as vendas em dezembro cresceram apenas 2,7%, cerca de um décimo do ritmo anual.
cautela na europa
na passada quinta-feira, o eurostat confirmou ainda o agravar da recessão em toda a zona euro na recta final de 2012 (ver quadro). mas o pior estava reservado à forte contracção das economias de espanha e itália, e à estagnação na alemanha. dados que sinalizam que as exportações em 2013 vão estar, provavelmente, longe do esperado pelo governo português.
da europa, o sentimento é de muita cautela sobre as perspectivas para 2013. a ce, pela voz de marco buti, director-geral dos assuntos económicos e financeiros admitiu recentemente que a necessidade de redução de dívida das empresas e estados da união europeia deverá abrandar o ritmo de crescimento da economia, uma opinião partilhada pelo economista-chefe da ocde, pier carlo padoan. este último alertou ainda que o desemprego vai continuar a subir na zona euro, este ano e talvez em 2014.
em portugal, os índices de confiança, de volume de negócios e de novas encomendas continuam a cair e indicam que o desemprego vai continuar a aumentar e a pesar nas contas do estado.
em dezembro, a taxa de desemprego em portugal atingiu um novo máximo histórico de 16,9%, o equivalente a 923 mil desempregados, meio milhão dos quais sem qualquer apoio financeiro.
só nos últimos três meses do ano passado, cerca de 80 mil pessoas perderam o emprego, mais de metade do registado na totalidade do ano (150 mil). na sequência das consecutivas más notícias sobre as receitas fiscais, desemprego, exportações e economia, o governo vai tentar negociar agora alguma margem de manobra para ganhar algum fôlego.