Natalie Massenet, a primeira-dama da moda

Não há no mundo da moda quem não saiba quem é Natalie Massenet, a mulher que trouxe o luxo para o teclado de um computador, através do site Net-a-Porter. Quando começou, há mais de dez anos, eram 15 pessoas num apartamento no bairro londrino de Chelsea, com os quartos carregados de stock e uma casa…

este sucesso acabou por receber o seu reconhecimento máximo com natalie massenet a ser nomeada a primeira mulher presidente do british fashion council, a entidade semi-governamental que organiza a semana de moda de londres e é a grande responsável pela promoção da moda inglesa, uma indústria avaliada em 25 mil milhões de euros por ano e onde constam marcas como a burberry, a mulberry ou anya hindmarch.

a prova de fogo arrancou ontem (15 de fevereiro) e vai durar até dia 19, com a primeira edição da semana de moda sob os comandos de massenet. e o efeito já se fez sentir. aquele que, nos últimos anos, era um evento que vinha a perder destaque, recuperou importância e o carácter de paragem obrigatória: «a mensagem que passamos – a jornalistas e compradores – é que, se não vêm a londres, não estão a fazer o seu trabalho».

as meias palavras não servem a esta filha de um jornalista americano e de uma modelo inglesa. massenet nasceu em los angeles, mas passou a infância em paris, só tendo regressado aos estados unidos da américa com 11 anos, após o divórcio dos pais.

após estudar na ucla, começou por trabalhar como recepcionista, mas chegou a editora de moda, primeiro nawomen’s wear daily e depois na the tatler, onde, aos 33 anos, foi assistente da excêntrica isabella blow. sempre atribuiu o seu sucesso ao facto de ser «uma pessoa positiva». acrescentando que «quando se atinge um objectivo acumula-se energia para o próximo. o positivismo é como um músculo que é necessário exercitar».

ao trabalhar como assistente de blow, olhava com estranheza para o fenómeno das vendas online. «custava-me a acreditar que pudesse estar no meu apartamento em londres, ver um casaco vitoriano nowisconsin, que o pudesse comprar e, de facto, o enviassem», disse à vogue. com a ajuda do marido, o banqueiro arnaud massenet – que havia conhecido no carnaval de 1997 e com quem um mês depois já vivia, trocando los angeles por londres – juntou o 1.4 milhões de euros necessários para, em 2000 (o mesmo ano em que a bolha do online rebenta arrastando para o fundo muitos dos negócios dotcom) trocar o jornalismo por aquela que se viria a revelar a maior aventura da sua vida: o site net-a-porter.

a ideia é aparentemente simples. numa era em que as vendas online são cada vez mais comuns, por que não disponibilizar na internet uma forma de comprar peças dos mais importantes criadores de moda do mundo? claro que este mercado do luxo está associado à ideia de atendimento personalizado e isso, na internet, torna-se complicado. mas, por outro lado, permite o acesso a marcas que, de outra forma, podiam ainda estar apenas disponíveis nas grandes metrópoles do estilo, comoparis, milão ou nova iorque.

o sucesso foi tal que, apenas quatro anos após a sua criação, net-a-porter já era rentável e foi eleita a melhor loja nos british fashionawards. mas não só as vendas corriam bem como o site tinha o difícil aval do elitista universo da moda. exemplo disso é o facto de roland mouret ter vendido a sua primeira colecção ali ou de, aquando o relançamento da casa halston, a marca ter concordado vender dois vestidos no site, logo no dia seguinte ao desfile.

dez anos mais tarde, em 2010, já não sobravam dúvidas acerca do sucesso da fórmula. de tal maneira que o grupo de luxo richemont comprou o site por cerca de 260 milhões de euros. o acordo assegurava, porém, que natalie massenet continuaria como presidente executiva.

como se não bastasse, dois meses depois de celebrada a venda, a empresária anunciou a criação de mr. porter, um site em tudo semelhante ao net-a-porter, mas no masculino. «a internet revelou-se uma dádiva para o mundo da moda. permite que os criativos possam chegar directamente ao consumidor», disse recentemente. ninguém diria que esta empreendedora de 47 anos, mãe de duas raparigas de sete e treze e possuidora de uma guarda-roupa que provoca a inveja a todas as mulheres, tenha como pior defeito a «preguiça».

raquel.carrilho@sol.pt