mas em novembro de 2011 deixou de aparecer trabalho e o tempo começou a passar. «as pessoas estão muito depressivas – eu próprio passei por isso – não tens trabalho, não tens perspectivas e começas a pôr em causa o teu valor».
um dia, no verão de 2011, foi almoçar à casa dos pais, na costa da caparica, e saiu de lá com novo alento. «eles conhecem-me e começaram a dizer ‘tens que te animar, tens que ter força… pensa nalguma coisa, cria alguma coisa tua’. e quando eles dizem aquilo, começo a falar da minha ideia do ‘moço de recados’».
nos três meses seguintes, luís fez um site, criou um perfil no facebook para a empresa, registou o nome, fez um vídeo promocional e conseguiu os seus primeiros clientes. «dá-me imenso orgulho pensar que criei uma coisa de raiz. às vezes penso ‘vocês que não me contrataram, vejam: consegui criar uma campanha a custo zero!’».
«acho que acontece com muita gente o trabalho não ser valorizado. estás numa empresa e essa empresa não aproveita o teu potencial. as empresas querem que faças o básico e quando tens uma ideia mais arrojada é banida, e falo disto porque passei por todas estas situações. já trabalhei em muitos sítios e isto é sempre igual, portanto só pode ser cultural».
e o que faz o moço de recados? faz isso mesmo, recados. se você não tem tempo para ir buscar a roupa à lavandaria, ele vai. se não tem tempo para ir tratar de papelada, ele vai. se vai receber uma encomenda em casa mas não vai lá estar, ele está lá por si. «já fui contactado por uma pessoa que está na austrália e que precisava de um papel da segurança social.
já tive pessoas de angola que me pediram, no natal, para ir comprar um relógio da hello kitty. tive uma senhora da nigéria que queria umas sandálias, outra de são tomé que queria que eu comprasse umas camisas…». luís só precisa de saber se é legal. se for, ele faz, e fá-lo com gosto.
patricia.cinta@sol.pt