Dito&Feito

António José Seguro escreveu uma carta aos líderes do FMI, BCE e CE a pedir, mais uma vez, a «reavaliação política do processo de ajustamento» de Portugal.

dias depois, o governo, pela autorizadíssima voz do ministro vítor gaspar, veio reconhecer que o país vai precisar de mais de um ano para reduzir o défice até 2,5%, que a queda do pib em 2013 será o dobro do 1% inicialmente previsto e que a altura é agora de apostar no investimento e no crescimento da economia. quer isto dizer que a receita de passos e gaspar está errada e que, afinal, seguro tinha toda a razão?

indo ao ponto fulcral da questão, é bom lembrar que não passaram sequer dois anos desde que o memorando de ajustamento com a troika foi assinado pelo governo socialista de josé sócrates. ninguém de bom senso e com os olhos abertos esperaria que fosse curta e rápida a terapia inscrita nesse memorando – aumentos generalizados de impostos, cortes e despedimentos nos serviços do estado, travão a fundo nos gastos e investimentos públicos. ou que fossem suaves e passageiras as suas inevitáveis consequências – recessão económica agravada, falências em catadupa, subida em flecha do desemprego, empobrecimento de vastos sectores da população.

é por isso que o líder do ps vem fazendo, desde há um ano, demagogia barata, ao insistir na necessidade de aliviar a austeridade e os prazos. como contraponto ao esforço do governo de passos coelho para cumprir as impopulares metas do memorando e honrar os compromissos assumidos pelo país.

o problema é que seguro – para lá do discurso fácil e popular de pedir mais flexibilidade e adiamentos – não apresenta (e provavelmente não tem) quaisquer ideias alternativas para o difícil caminho de saneamento e recuperação que o país deve seguir. como demonstrou, por estes dias, nas três páginas da carta aos líderes da troika ou nas 27 páginas do chamado documento de coimbra: um vazio programático confrangedor.

o outro problema é que vítor gaspar e o governo parecem não acertar uma só previsão económica ou estimativa orçamental. e começam mesmo a dar o dito por não dito. preocupante, no mínimo.

jal@sol.pt