Nada melhor do que a televisão para nos ajudar a resolver essas angústias, tanto mais que Portugal está muito bem posicionado no ranking mundial do número de debates, mesas redondas e entrevistas televisivas por quilómetro quadrado.
Uma boa parte dos comentadores residentes que pululam pelos vários canais são figuras dos partidos. Independentemente da forma que usam, nuns casos mais directa e noutros mais subtil, os elementos deste grupo fazem pouco mais do que reproduzir as respectivas cartilhas ideológicas e partidárias. A televisão dá-lhes muita notoriedade, mas pouca credibilidade.
A coisa não melhora muito com a outra parte, a dos supostos comentadores independentes. Com poucas excepções, estes analistas usam uma combinação de argumentos simples, postura doutoral e ideias atraentes (do tipo ‘a crise deve-se à arquitectura do euro’), para nos proporcionar um triste espectáculo diário de má-língua política.
São também comuns no seu pensamento várias deformações bem documentadas pela psicologia, como a tendência, conhecida como ‘viés da confirmação’, para interpretar as informações novas do modo mais conveniente (por exemplo: não podendo ser negada, a descida das taxas de juro deve-se unicamente à acção do BCE) e a ‘cascata da disponibilidade”, ou seja, o processo pelo qual a repetição incessante de uma certa crença torna essa crença mais plausível.
Tudo isto, bem cozinhado, resulta, normalmente, na ‘demonstração’ de que nenhum sacrifício valeu a pena e nenhuma medida resultará. O que falta a estes analistas é dominarem conceitos económicos tão básicos como o de ‘restrição orçamental’ e compreenderem que ‘analisar’ também significa apresentar contribuições construtivas e realistas.
Seria muito bom que houvesse saídas claras e menos dolorosas para a crise. Infelizmente, a verdade é que, devido à irresponsabilidade de todos e à desonestidade de alguns, colocámo-nos, a nós próprios, numa situação tão delicada que nem as teorias económicas mais avançadas, nem os modelos econométricos mais sofisticados nos podem dar a chave infalível para a recuperação, ou a garantia de que tudo melhorará dentro de pouco tempo.
Mas isso não deve fazer-nos desistir. Infelizmente, a Economia não é uma ciência exacta e a realidade é muito mais complexa e aleatória do que o mundo que está na cabeça da generalidade dos nossos comentadores.
Professor, Católica Lisbon-School of Business & Economics