O céu a cair

Por mais inacreditável que pareça, caíram fragmentos de um meteoro na Terra. A queda de meteoritos está naquela categoria de possibilidades remotas.

um bocadinho como o euromilhões, mas no mau sentido. o mais recente meteoro, que teria o simpático peso de 7.000 toneladas, desintegrou-se na atmosfera sem que ninguém o pudesse prever e os meteoritos espatifaram-se na zona dos montes urais, na rússia. a surpresa celestial provocou mais de mil feridos e uma destruição generalizada de edifícios e automóveis. as únicas pessoas nada atónitas com o acontecimento foram os especialistas, que afirmam que a queda de meteoros é mais frequente do que pensamos. a diferença foi ter havido meteoritos a cair no meio de pessoas. se é assim, então não estamos perante uma possibilidade remota, mas antes perante uma possibilidade pouco conhecida por falta de testemunhas com câmara no telemóvel. só nos faltava mais um motivo de preocupação.

quando sabemos pouco

alfred hitchcock está na berlinda. desta vez, o tema explorado é a produção do filme psycho e a relação entre o realizador e a mulher, alma reville. o filme de sacha gervasi, com anthony hopkins e helen mirren, não é tão desinteressante como o de julian jarrold, de que aqui falei há tempos. mas também não é nenhuma obra-prima. há uma tendência voyeurista na descrição das relações de hitchcock com as pessoas na sua vida que não passam da aborrecida superficialidade. o homem que gostava das louras, inseguro, dependente da mulher, nada disto basta para entendermos um dos realizadores mais marcantes da história do cinema. esta insistência nos detalhes domésticos só pode ter que ver com o verdadeiro mistério que seria esta pessoa, mais privada do que tantos gostariam. não gostei nada de hopkins no papel. parece que tem bócio. helen mirren, pelo contrário, é excelente. não sei se será alma reville, mas está bene trovatta.

viva o spotify

o aparecimento do spotify em portugal veio mudar mais um bocadinho a nossa vida. neste caso, como noutros parecidos, para melhor. podemos agora ouvir música no computador, no tablet e no telemóvel sem pagar um cêntimo (a menos que optemos pela versão premium do serviço, que deve valer a pena, nem que seja para acabar com a intromissão da publicidade), com uma excelente qualidade de som. não sei quais serão as consequências da generosidade, mas por enquanto estou como uma criança numa piscina de chocolate. descobri um álbum que não conhecia de roberta flack, intitulado let it be roberta (roberta flack sings the beatles). as versões, como ‘and i love him’, são originais e surpreendentes. com a excepção de ‘hey jude’, os temas pouco ou nada têm de uma certa ligeireza própria dos beatles. e ‘here, there and everywhere’, de paul mccartney, é mais sólido, mais sério, quando cantado por uma mulher. por esta, de voz perfeita, aos 75 anos.

medos e mudanças

um novo estudo nos euaque relaciona genes e ideologia fez mais uma extraordinária revelação: as pessoas com tendência para ter medo são conservadoras e votam no partido republicano. não dizem que os conservadores têm medo, mas que as pessoas com medo se tornam conservadoras. depois de os politólogos e neurocientistas arranjarem uma série de justificações, o mais estranho é concluírem que os genes não chegam para explicar as opções políticas. afinal é a conjugação dos genes com a educação, o ambiente e as circunstâncias, etc. fica, no entanto, claro que quando se tem medo de mudanças, de pessoas diferentes ou de outra novidade qualquer, a inclinação é ser agrupado na ala conservadora. é uma pena que a confusão entre reaccionário e conservador se tenha institucionalizado. tentemos de novo. quando somos saudáveis e assim queremos continuar, não quer dizer que nos tornamos reaccionários ou de direita. mas apenas que queremos preservar a saúde.

licenciadase empreiteiros

li um artigo na the atlantic sobre as piores cidades norte-americanas para uma rapariga licenciada sair com um rapaz com habilitações similares. há que evitar sarasota, na florida. o artigo começa com um pretexto divertido, mas acaba por evoluir de um modo talvez assustador. parece que é mais difícil agora uma rapariga nos eua com um curso superior casar com um rapaz também formado do que era na década de 60. talvez seja assim porque, na altura, as raparigas licenciadas não casavam sequer. e aqui temos um ponto positivo: ao menos agora casam. é possível que, em certos casos, as diferenças sejam irreconciliáveis, e que a mulher superiormente habilitada sofra com a insegurança do marido sem canudo. mas imaginemos um empreiteiro perdido de amores por uma finalista de filosofia. pode achar graça quando ela lhe diz que o nada é inconcebível. até podem ser felizes para sempre. ou durante os primeiros três meses.