mas é mais do que isso. a fita começa só com vozes, gritos e sussurros de medo e terror de gente que está a ser queimada e asfixiada nos arranha-céus de nova iorque, ou que vai morrer nos aviões desviados.
as primeira imagens levam-nos dos gritos das vítimas, no fundo negro da tela, para um dark site da cia no paquistão, onde um operacional da agência interroga um correio financeiro da al-qaeda. ammar pode conduzir aos chefes escondidos. o saudita resiste às humilhações, à pancada, ao waterboarding mas acabará por ceder. uma mulher jovem, bonita, loira, assiste impávida. chama-se maya, é também da cia, está na estação de karachi e é ela quem vai tomar conta da perseguição ao imã escondido e grande chefe da al-qaeda.
a viagem de maya é uma viagem por territórios sombrios, estações clandestinas da agência em terceiros países, bases militares americanas; aí vai cruzando confissões de terroristas, notas de informadores infiltrados, pistas lógicas e outras absurdas, imagens de tecnologia, satélite com rumores do bazar e vigilância à vista. o caminho levará a abu ahmed al-kuwaiti, o correio de confiança de bin laden, detectado num compound em abottabad. o xeque pode estar lá.
maya tem de lutar com amigos e inimigos, escapar a atentados, ver morrer companheiros, esgrimir com chefes e colegas para levar a sua avante. finalmente a operação tem o ok do director panetta (no filme james gandolfini). o desfecho final cabe ao seal team six, uma força helitransportada que de noite ataca o compound, mata bin laden e os seus companheiros, poupando as mulheres (menos uma) e as crianças.
kathryn bigelow, a realizadora, está há mais de trinta anos no ofício. em 2008 fez outro filme – the hurt locker (estado de guerra) – sobre o quotidiano de um sapador americano, um ‘desmontador de bombas’ no iraque. ela captou bem a natureza desta guerra – suja, subterrânea, com tortura, drones, bombas, baixas colaterais de civis e não combatentes, decisões limite sobre tudo isto. ela e o argumentista mark boal, fizeram um filme excelente, realista, da guerra como ela é.
jessica chastain interpreta maya, a protagonista, uma mulher sem cinismo nem paixão, senão a paixão de cumprir a sua missão, uma jogadora solitária, que embora com os recursos da cia, é decisiva na determinação de conduzir a operação.
as críticas vindas de correcções políticas várias – os conservadores a clamarem que a tortura não foi importante para o desfecho e os esquerdistas a pregarem contra o seu abuso – não têm razão: o filme não faz a apologia da tortura, nem pretende ser um documentário histórico menos moralizar ou condenar. é uma obra de arte, de ficção, mas acaba por ser – ou parecer – um retrato da guerra como ela é.