um dos pressupostos básicos do bom tom é uma certa modéstia, ainda que sem exageros (não há pior do que a falsa modéstia). os donos dos palácios, mesmo no mónaco (salvo, por razões óbvias, o da família reinante), têm por costume, se são educados e nele vivem desde pequenos, falarem na «sua casa», e não «no seu palácio». ninguém diz o meu solar, ou o meu iate (é um barco). o máximo do fino foi um bom amigo que, depois de uma perda gigantesca na bolsa, falava naturalmente num «azar de investimentos». também é preciso ter posses, além de bom gosto, para isto.
de qualquer maneira, o importante é a postura. eu, por exemplo, toda a vida vivi numa boa casa em évora, dos meus pais. foi agora vendida a um estrangeiro de dinheiro fresco, que lhe chama palácio, e gosta de propalar que lá viveu um conde (só um?!).
todos desculpamos que ronaldo, acabadinho de enriquecer, fale orgulhoso no seu ferrari. mas ninguém imagina um lorde inglês a dizer: «ofereço-lhe boleia no meu rolls-royce». terá o bom gosto de dizer: «convido-o a vir no meu carro» – e, vá lá, em maré de discurso mais apurado, «no meu automóvel».
o verdadeiro senhor é simples. uma certa modéstia é muito senhoril. a ostentação, pelo contrário, é própria do pretensiosismo parvenu.
dito isto, insisto, nada de falsas modéstias: seria também absurdo (e até ofensivo para os menos afortunados) convidar para uma cabana, e abrir a porta de um palação.