Novas profissões

Ao mesmo tempo que o país afunda de dia para dia numa crise cujo fim parece cada vez mais distante, o Parlamento anda às voltas com a lei de limitação de mandatos.

a lei estabelece que os presidentes de junta de freguesia e de câmara não podem cumprir mais de três mandatos consecutivos. ao quarto têm de se candidatar a outro município. parece que a comissão nacional de eleições deliberou sobre o tema, mas as dúvidas persistem. qualquer eleitor inocente, votante eterno nos mesmos de quem se queixa, e dos quais não se livra nem por nada, vê tudo isto com imensa perplexidade. basta, portanto, que o candidato mude de sítio para que tudo fique como dantes. a ‘escolha’ dada ao eleitor não é de uma ou duas caras novas para a autarquia, mas a de caras velhas da autarquia vizinha. ficamos assim a saber que os votos nas eleições, na verdade, contam muito pouco. o que fazer quando as leis não são feitas no interesse das pessoas?

ao vivo e à distância

o atleta paralímpico sul-africano oscar pistorius foi acusado de ter assassinado a namorada, a modelo reeva steenkamp, no passado dia 14 de fevereiro. segui através do twitter a audiência para determinar se lhe seria concedida a fiança. as correspondentes da sky news e do telegraph informaram os seguidores dos pormenores da sessão enquanto decorria. era importante perceber se pistorius poderia fugir, à semelhança do que aconteceu no caso de julian assange. a comparação surgiu por serem ambos figuras públicas e facilmente reconhecíveis. da defesa alegaram que não. da acusação, que sim. se a acusação fosse capaz de suscitar a dúvida a respeito da premeditação no crime, dificultaria a concessão da fiança. mas o descrédito do investigador hilton botha, entretanto ele próprio acusado de tentativa de homicídio, acabou por ajudar a defesa. tenciono seguir o julgamento de pistorius pelo twitter. é mais emocionante saber tudo na hora.

como porco é inocente

dominique strauss-kahn, antigo presidente do fmi, acusado de ter tentado violar uma empregada de quarto num hotel em nova iorque, entre outros crimes parecidos que vieram à tona, foi descrito como «meio homem, meio porco» por uma amante franco-argentina, marcela iacub, jurista com um percurso brilhante, cronista no libération e defensora do feminismo radical. marcela iacub é a favor da legalização da prostituição e alega que que as feministas francesas não passam de umas moralistas que pretendem controlar o monopólio sexual das mulheres. tem uma visão desconcertante sobre strauss-kahn, que descreve como «um homem horrível e um porco maravilhoso». belle et bête é o título do seu livro, que será publicado em breve, sobre a relação de sete meses entre os dois. o lado porco até pode ser magnífico para quem aprecia o estilo. mas é o homem que conta para o tribunal. dsk arrisca a uma pena de 20 anos na prisão por proxenetismo.

os dias seguintes

os dias que se seguiram à resignação de bento xvi foram nefastos para a igreja. antes de mais, porque ficou a ideia de que o papa abandonaria a sua actividade intelectual. a sensação de orfandade foi enorme para os que se habituaram a pensar com ratzinger em questões menos aprofundadas até então. logo depois, as notícias sobre comportamentos desadequados por parte de bispos e sacerdotes não pararam de ocupar a imprensa. é provável que a luta pelo papado seja mais agressiva do que numas quaisquer eleições corriqueiras civis. mesmo nos estados unidos. mas a ideia com que se fica é ainda mais corrosiva. no dia em que as acusações sobre o bispo d. carlos azevedo vieram a lume, houve comentários públicos de padres e bispos sobre as acusações de que era alvo. não houve contenção nas observações. nem caridade. a impressão que a igreja deixa é a pior possível. mas isto deve ser tudo bom para os extremistas da sinceridade.

noutro mundo

a publicação satírica online the onion, conhecida por ter muita graça, twittou uma piada selvagem dirigida à criança nomeada para o óscar de melhor actriz, quvenzhané wallis. a piada inclui um palavrão e não é aconselhada a almas sensíveis. muito menos a almas sensíveis norte-americanas. no entanto, é a diferença entre a óbvia inocência da criança e a palavra usada para a descrever que tem graça. é a distância que impede que a piada seja um insulto ofensivo e é também aí que encontramos o total absurdo do tweet. os espectadores acompanharam a cerimónia de entrega dos óscares pelo twitter. todos tinham a sua maldadezinha a dizer sobre as celebridades. o the onion aplicou a maledicência a uma criança de nove anos, um alvo impensável. qualquer coisa como: ‘e aquela quvenzhané wallis armada em parva!’. não foi bem isto, mas foi tão disparatado quanto isto. toda a gente condenou, o the onion pediu desculpa. pronto.