jorge nuño mayer esteve hoje em lisboa para a apresentação do relatório ‘o impacto da crise europeia’. este documento, divulgado em dublin no passado dia 14 de fevereiro, consiste num estudo sobre o impacto da crise e das medidas de austeridade em curso em países como a grécia, irlanda, itália, portugal e espanha. durante a manhã, o representante da cáritas europa e o dirigente da cáritas portuguesa, eugénio fonseca, estiveram reunidos com os ministros da economia e da solidariedade e segurança social.
em conferência de imprensa, o secretário-geral da cáritas europa realçou a necessidade de «combinar as políticas económicas com as políticas sociais», para que haja uma noção do impacto das medidas económicas no dia-a-dia das pessoas. o estudo da organização concluiu que a prioridade dada à austeridade não está produzir resultados, nem em termos económicos nem sociais. o relatório refere ainda a necessidade de uma «maior partilha dos sacrifícios» e um «compromisso de longo prazo», com vista a «uma sociedade inclusiva» e «um futuro sustentável». jorge nuño mayer refere que uma das maiores preocupações da cáritas é «que a pobreza se torne uma normalidade»: no dia em que esta realidade «deixe de ser notícia, os políticos deixam de se preocupar».
má nutrição e fracasso escolar
segundo o estudo da cáritas, houve um aumento generalizado dos níveis de pobreza nos países estudados, nomeadamente a pobreza infantil. em portugal, a taxa de pobreza já atingiu os 24,4% e a pobreza infantil os 28,6% (dados de 2011). trata-se de valores mais elevados do que a média da ue (24,2% e 27%, respectivamente). mais de meio milhão de crianças estão, assim, em risco de pobreza. muitas crianças encontram-se em estado de «má nutrição e com fracasso escolar, podendo vir a tornar-se irrecuperáveis», salientou jorge nuño mayer.
o relatório destaca também o aumento do desemprego – 17,6% em portugal, sendo a média europeia 10,6% –, em particular o de longa duração e entre os jovens (36,4% em portugal e 22,8% na europa). o secretário-geral da cáritas europa alerta que a situação está a tornar-se estrutural, «hipotecando o futuro da europa».
os trabalhadores pobres são também referidos nos relatórios, com uma taxa de 10,3% em portugal (mais uma vez superior à média europeia, que é de 8,7%), sendo que os mais atingidos são os trabalhadores com baixa qualificações.
o estudo termina com recomendações não só à união europeia como aos governos e à sociedade civil, das quais se destacam: a criação de políticas para combater a pobreza infantil e o desemprego jovem; uma maior monitorização social; assegurar uma maior participação da sociedade civil; e um acompanhamento e apoio a pessoas em situação de necessidade.
eugénio fonseca, por seu turno, referiu ainda que, na segunda-feira, esteve reunido com a troika: «foi um encontro muito positivo», referiu, avançando que notou uma maior sensibilidade quanto aos problemas das famílias portuguesas e uma maior preocupação em abrandar as medidas de austeridade. o responsável da cáritas nacional alerta, no entanto, que é «urgente dar sinais de que estes sacrifícios valeram a pena».
eugénio fonseca destacou, por outro lado, a «receptividade e sintonia com o relatório» da cáritas manifestada pelo governo e a importância da «criação de um observatório social nacional», para uma compilação mais fidedigna e actualizada dos dados da pobreza.