Risco de pobreza já atinge mais de meio milhão de crianças portuguesas

Mais de meio milhão de crianças portuguesas estão em risco de pobreza, segundo dados da Cáritas sobre 2011, alertando o responsável da Cáritas Europa que a pobreza vai continuar a aumentar e que as crianças serão as mais afectadas.

os dados constam do relatório “o impacto da crise europeia” que, numa primeira análise, dava conta que a taxa de pobreza infantil, em portugal, chegava aos 22,4% em 2010, acima da média da união europeia a 25 (20,5%).

o relatório da cáritas europa analisou o impacto da crise económica e das medidas políticas para a enfrentar, em particular nos cinco países mais severamente afectados: grécia, irlanda, itália, portugal e espanha.

aqueles valores foram entretanto actualizados e a cáritas revelou entretanto, com base nos dados do eurostat, que o risco de pobreza infantil em portugal aumentou para os 28,6% em 2011, mais uma vez acima da ue25 que está nos 27%.

tendo por base informação do instituto nacional de estatísticas (ine) que diz existirem em portugal 2. 202.509 crianças (dos 0 aos 18 anos), e estando a taxa de risco de pobreza infantil nos 28,6%, isso significa que existem 577.865 crianças em risco de pobreza ou exclusão social.

em conferência de imprensa, o secretário-geral da cáritas europa apontou que a pobreza está a aumentar em todos os países onde foi realizado o estudo e que o reflexo disso está na pobreza infantil e no desemprego jovem.

“a pobreza infantil está sempre ligada à pobreza das famílias e como cada vez mais famílias pedem ajuda à cáritas, significa que isto está a converter-se numa situação estrutural, o pior da crise não passou, o pior da crise ainda está para chegar”, alertou jorge nuno mayer.

na opinião do responsável, é necessário uma convergência das políticas sociais e económicas e pediu que a união europeia tenha consciência que quando toma decisões económicas, elas têm repercussões nas pessoas.

“não se pode pedir tanta austeridade quando a austeridade está a ser suportada pelas costas de pessoas que já não aguentam mais e um exemplo está nos pensionistas portugueses que agora têm menos recursos porque lhes cortaram as reformas”, apontou.

por outro lado, chamou a atenção para o facto de muitos desses pensionistas estarem agora a sustentar três gerações de pessoas (avós, filhos e netos) por causa do aumento do desemprego, lembrando que quando se cortam as pensões, não é só o avô que deixa de comer, mas toda a família.

o presidente da cáritas portugal, por seu lado, deu conta das reuniões que teve hoje com os ministros da solidariedade e segurança social e da economia, tendo ficado acertado com pedro mota soares o arranque de experiências piloto para uma maior relação entre o atendimento nas paróquias e os atendimentos na segurança social.

eugénio fonseca disse que voltou a defender a necessidade de constituir um observatório social nacional para acabar com os dados estatísticos com “meses e meses de atraso”.

já com o ministro da economia, o responsável da cáritas nacional divulgou o levantamento que está a ser feito sobre as oportunidades de negócio para desempregados e pediu a álvaro santos pereira que se comprometa com uma “plataforma de comercialização para viabilizar os negócios suscitados por essas microiniciativas de emprego”.

“o que mais nos preocupa é que a situação actual se torne normal e já não seja notícia amanhã que há tanta pobreza infantil ou desemprego jovem porque ao não ser notícia vai deixar de ser preocupação política e isso vai romper com a sociedade”, rematou o secretário-geral da cáritas europa, jorge nuno mayer.

lusa/sol