não é por acaso que, biblicamente, o terceiro dia é o da criação. assim foi na modalisboa. na edição que se viu reduzida a três dias – contrariando os tradicionais quatro – viram-se as propostas mais consistentes, maduras e entusiasmantes.
o dia arrancou com a dupla marques’almeida, à qual se seguiram vítor, dino alves, white tent, miguel vieira, filipe faísca e nuno gama.
se os primeiros procuraram ir mais longe nas propostas essencialmente street, usando outras linguagens e materiais (e foram bem sucedidos nessa missão), já vítor continua a brincar com o seu universo humorístico (a que chama de vitology) e apresentou um trabalho muito pormenorizado de estamparias com imagens divinas, e que deixaram um sorriso na plateia. também os white tent deram a conhecer uma colecção que, seguindo a linha definida nas últimas colecções, se mostrou mais madura.
de seguida, dino alves encheu a sala com um grupo de crianças de um bairro desfavorecido na amadora – que contactaram o ateliê do designer demonstrando o interesse em poder conhecer de perto a modalisboa – que, todas fardadas, se sentaram com um livro. a imagem, simbólica, definiu o mote do desfile: next page. o resultado foi uma colecção coerente, elegante e bem confeccionada, onde as folhas de livros apareceram trabalhadas em tecido, com pregas e machos milimétricos.
na recta final da noite celebraram-se dois aniversários de carreira: os 25 anos de miguel vieira e os 20 de nuno gama. ambos se mantiveram fieis ao seu universo pictórico, mas o destaque vai para gama que foi mais efusivo nas celebrações, convidando a desfilar alguns dos homens que têm acompanhado o seu percurso – ‘os borrachos do nuno gama’ – e recuperou os tradicionais lenços de viana do castelo em propostas contemporâneas.
impossível terminar sem referir filipe faísca. o designer recuperou o universo que apresentou em 2007, no museu de história natural, onde mostrou uma colecção inspirada na identidade e na herança portuguesa. desta vez faísca voltou a usar o tradicional borel, que combinou com peles, pelos, sedas e ainda tecidos tecnológicos. os cortes impecáveis e uma paleta de cores – que vai do tom vinho ao verde ácido – voltaram a deixar clara a sua mestria no corte e enquanto contador de histórias.
a modalisboa despediu-se com a promessa de que, apesar dos cortes no financiamento e a redução do número de dias do evento, esta não será a última edição. por vezes, é necessário dar um passo atrás para seguir em frente. segue-se o portugal fashion que arranca a 20 de março, em lisboa, com as colecções de fátima lopes e da dupla manel alves/ josé manuel gonçalves.
raquel.carrilhoe@sol.pt