a imagem de um bom charuto cubano a ser fumado enquanto na outra mão se agita levemente um balão de conhaque não é o único cenário possível para este quadro. em portugal, os produtores de vinho do porto lutam para que esta bebida, que conquistou o mundo há séculos, continue a alargar horizontes e a trazer cada vez mais pessoas para a sua causa.
por que não degustar um bom porto, acompanhando um bom charuto? sem ser algo de novo – muitos já seguiram esta via desde tempos longínquos –, é indubitável que, por mais incrível que pareça, o português está ainda longe de ser um bom consumidor de porto ou de ser um bom embaixador desta bebida nacional.
foi por isso com expectativa que acompanhei uma prova comentada sobre qual a melhor harmonização entre dois porto ferreira (um lbv de 2008 e um tawny com 20 anos) e um charuto cubano, no caso o punch descobridores feito em edição especial para o nosso país.
o porto ferreira lbv, que estagia durante quatro anos é encorpado e sente-se um choque inicial quando entra na boca. quanto ao tawny 20 anos, demonstra ser mais macio e não tão encorpado, mas o seu final de boca é longo. qual o mais indicado para acompanhar este charuto de intensidade média?
uma ideia temos de reter desde logo. tal como com a comida, nem o vinho se deve sobrepor a esta, nem o inverso deve acontecer. o que se pretende é que ambos os paladares se casem, se complementem de forma a contribuírem para uma sensação de duplo prazer.
nesta prova, verifiquei que à medida que ia fumando o punch descobridores, o tawny de 20 anos ia casando extremamente bem com todas as etapas. com efeito, durante o primeiro terço, altura em que o charuto revela notas muito picantes, a macieza do porto dava-lhe o equilíbrio necessário. quando se chega ao segundo terço – fase em que o charuto vai evoluindo – o tawny manteve a sua personalidade e constância. finalmente, o último terço (o mais forte porque a nicotina está agora mais concentrada) foi soberbamente ultrapassado com o longo final de boca deste porto ferreira.
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