pela primeira vez desde o início da crise, o crescimento e a criação de emprego estão formalmente na agenda de um conselho europeu: «lidar com o desemprego é o desafio social mais importante que enfrentamos», lê-se na agenda acordada entre os líderes dos 27 para a cimeira que termina hoje em bruxelas.
numa altura em que a contestação social também já chegou a bruxelas – onde ontem se manifestaram milhares de europeus –, os líderes apresentam a «iniciativa de emprego jovem», um programa que prevê um investimento de seis mil milhões de euros. «se temos 700 mil milhões para estabilizar o sistema bancário devemos ter pelo menos a mesma quantia para estabilizar as novas gerações», defendeu na quarta-feira o alemão martin schulz, líder do parlamento europeu (pe), numa crítica a um investimento que atribui apenas cerca de mil euros a cada um dos quase seis milhões de jovens desempregados que a comissão europeia estima existirem.
«somos campeões mundiais nos cortes, mas já não temos essa apetência quando se trata de estimular o crescimento», lamentou, mostrando a impaciência que reina no órgão a que preside – na quarta-feira, o pe chumbou por larga maioria o programa orçamental acordado entre a comissão e os líderes dos 27. um voto liderado pela oposição socialista do pe, que na semana anterior dissera ‘basta’ numa conferência anti-austeridade.
pressão socialista
o ministro das finanças francês foi figura principal desse debate, onde o centro-esquerda apontou o caminho de saída de uma austeridade que está «a alimentar uma crise social que instiga o populismo». pierre moscovici garante que será o «último a desistir» dos esforços de equilíbrio orçamental, mas defende que a principal crise europeia do momento é de «crescimento, confiança e emprego».
no debate promovido no dia 7 pelo grupo socialista do pe sob o desígnio ‘falhanço da austeridade na europa – uma saída’, as ideias sustentaram-se num estudo encomendado pelo grupo a três instituições económicas europeias, onde se defende que usando as actuais regras orçamentais da ue seria possível libertar cerca de 80 mil milhões de euros já em 2013 para investir em políticas viradas para o crescimento e para a criação de emprego. para o vice secretário-geral da ocde, pier carlo padoan, trata-se de «virar o debate da quantidade para a qualidade da austeridade».
e se padoan sugeriu que os estados deviam cortar no apoio à produção em vez de aumentar consecutivamente os impostos, defendendo que «o efeito para as finanças públicas é o mesmo mas o impacto social é muito diferente», moscovici também se destacou nas propostas: «a zona euro poderá ter um orçamento separado dos 27», sugeriu, considerando que «faria sentido» criar a figura de um ministro das finanças para os 17 países que partilham a moeda única. alguém que possa ajudar a mudar a imagem das instituições europeias: «há cada vez mais europeus a identificar a ue com a austeridade, o desemprego e até com um domínio autoritário exterior», lembrou hannes swoboda, líder socialista no pe.
para moscovici, chegou a hora de mostrar «resultados» de forma a levar ao «renascimento da ideia de uma europa que conta com o apoio dos seus cidadãos». razão que levou o responsável pela segunda maior economia da zona euro a admitir que não cumprirá o objectivo de redução de défice previsto para 2013: «nas condições actuais iríamos agravar a recessão se forçássemos a meta dos 3%», explicou ao anunciar que essa seria a posição defendida por françois hollande no conselho europeu, que foi também partilhada pela espanha.
nuno.e.lima@sol.pt