Em primeiro lugar, Portugal beneficia da investigação científica e desenvolvimento tecnológico à escala global. Muitas das melhorias na qualidade de vida resultam de criatividade e trabalho que ocorre fora das nossas fronteiras. Por exemplo, a melhoria nos cuidados de saúde em Portugal, nos últimos 30 anos, resulta em larga medida de conhecimento construído um pouco por todo o Mundo.
A natureza do conhecimento é assim mesmo. Uma vez feita, uma descoberta todos podem aspirar a colher alguns benefícios. O reverso da medalha é que a investigação e desenvolvimento efectuada entre nós só é verdadeiramente relevante se contribuir para o conhecimento e evolução à escala global.
Em segundo lugar, Portugal beneficia de acesso como comprador e vendedor aos mercados internacionais de produtos e serviços. Se Portugal estivesse fechado, sobre si próprio, teria de aspirar à auto-suficiência em todos os bens essenciais à sobrevivência. Um país de dimensão média como Portugal só pode ter níveis de produtividade elevada (e portanto bem estar) se atingir patamares de excelência internacional num número suficiente de sectores de actividade. Precisamos, simultaneamente, de alguma diversificação (para não estarmos apenas dependentes de um número limitado de sectores) e especialização (para podermos atingir níveis elevados de sofisticação e relevância internacional.
Este processo de internacionalização moderou o seu desenvolvimento durante os primeiros anos de adopção do euro, mas a própria crise tem forçado um olhar redobrado à internacionalização da economia portuguesa. Um corolário importante deste olhar é que as empresas (mesmo as de média dimensão) devem pensar, desde cedo, qual o potencial global dos produtos e serviços que desenvolvem.
Em terceiro lugar, Portugal beneficia de acesso aos mercados de capitais internacionais. Esse acesso foi interrompido pela crise de financiamento em que entrámos em 2011, mas há uma esperança fundada que esta interrupção, embora já penosamente longa, seja apenas temporária. Isso significa que Portugal se pode desenvolver mais depressa do que o permitido pelas poupanças dos portugueses. De igual modo, os aforradores portugueses podem proteger uma parte das suas poupanças da volatilidade da economia portuguesa e das suas instituições.
Em quarto lugar, Portugal beneficia das regras de funcionamento da economia elaboradas no âmbito das economias mais desenvolvidas. Isso não torna essas regras nem perfeitas nem imutáveis. Porém, colhemos dois tipos de benefícios. Primeiro, não precisamos de consumir recursos internos para desenhar regras de funcionamento nos vários âmbitos em que elas são necessárias. Ou seja, beneficiamos de conhecimento concebido num plano mais lato que o nacional. E, em segundo lugar, essas regras tendem a ser mais estáveis e dessa forma contribuem para o crescimento de instituições e empresas pilares essenciais em que assenta o desenvolvimento económico.
A interdependência entre Portugal e os países da União Europeia, bem como outros com quem Portugal tem fortes laços económicos, deve ser vista como essencial à nossa sobrevivência e bem-estar. Desenvolver uma estratégia de participação na esfera internacional é hoje uma tarefa central para quase todas as empresas e organizações portuguesas.
Professor, Católica Lisbon-School of Business & Economics