depois da sua morte, o seu sucessor nicolás maduro continuou a fantasia, que deve ser discutida nos cafés de caracas como se fosse uma possibilidade. o gawker perguntou se os e.u.a. podiam ter assassinado chávez usando o cancro. o artigo é um delírio divertido e conclui que não. mas fiquei mais curiosa e aproveitei uma conversa sobre carbúnculo com o meu pai para lhe perguntar se a contaminação seria possível. esclareceu que ninguém pode contaminar ninguém com um tumor. falámos também sobre a possibilidade de contaminação com polónio-210. mas o polónio-210 não causa directamente cancro, embora a vítima aparente estar numa fase avançada da doença. a suspeita de chávez e maduro é uma manobra para conservar a paranóia no partido socialista unido da venezuela.
a vítima
‘the professor, the bikini model and the suitcase full of trouble’ é o título apelativo de um artigo muito bem escrito por maxine swan e publicado no the new york times de 8-3-13. vale a pena ler a história sobre paul frampton, actualmente com 68 anos, professor de física brilhante e prolífico, descrito pela primeira mulher como tendo a vida emocional de uma criança de três anos. divorciado e aborrecido, decidiu procurar uma mulher que tivesse «entre 18 e 35 anos» e encontrou denise milani, modelo boliviana, por quem se apaixonou sem nunca a ter visto. num encontro marcado em la paz, milani contactou frampton por e-mail e explicou que não podia ir ter com ele, mas pediu-lhe que levasse uma malinha para buenos aires. frampton foi condenado a quatro anos e oito meses na prisão por tráfico de droga. para ter uma mulher entre os 18 e os 35, cometeu um crime e nada garante que não pudesse cometer outro ainda pior. um grande gagá.
maratona verbal
o senador rand paul falou durante 13 horas seguidas de modo a impedir a nomeação de john brennan como director da cia. brennan parece ser favorável ao uso de drones em solo norte-americano. o senador republicano é contra e para isso usou de uma figura legal no senado norte-americano chamada ‘filibuster’, que tem origem no castelhano ‘filibustero’, que significa pirata, e que permite a qualquer senador que fale durante o tempo que quiser sem ser interrompido por ninguém. quem invoca o ‘filibuster’ não se pode sentar, não pode ir à casa de banho, nada. só pode falar até não aguentar mais. até agora só conhecia um caso destes e era no cinema. em mr. smith goes to washington, um filme de 1939, de frank capra, james stewart fala até cair para o lado. rand paul conseguiu adiar a eleição do director da cia, tal como james stewart conseguira adiar a votação de uma lei. parece eficaz, mas por favor não adoptem a ideia para o nosso país.
divisões irracionais
uma das conversas mais corrosivas a que temos assistido é aquela em que se insiste que há várias divisões na sociedade portuguesa: os que têm emprego e os que não têm, os que têm reforma e os que não sabem se virão a ter, os jovens e os velhos. se as divisões existem, então sempre existiram e a crise só veio torná-las mais claras. mas gostaria de alertar para a impossibilidade de estas divisões existirem. quanto ao emprego que tem hoje, pode não ter amanhã. e quem não tem hoje, pode conseguir uma solução mais depressa do que pensava. quanto à reforma, seria útil perceber por que razão nenhum governo até hoje deixou que as pessoas tratassem cada uma da sua pensão. seja como for, podem mostrar os gráficos e as tabelas que entenderem. a verdade é que não sabemos. por fim, um homem e uma mulher jovens agora serão velhos amanhã. é uma verdade inabalável. é irracional acreditar que a vida só muda e passa para os outros.
injustiça organizada
a clássica divisão entre ricos e pobres está mais marcada e de um modo que incomoda as pessoas. os mais ricos enriquecem em tempo de crise. a lista na forbes indica alexandre soares dos santos com um aumento considerável na sua fortuna, bem como belmiro de azevedo. américo amorim parece ter mantido a sua fortuna, e continua a ser o mais rico dos três. em portugal temos, portanto, três bilionários. segundo os meus cálculos, haverá uma centena de famílias muito ricas em portugal. perante este cenário, a pergunta deve ser: porquê tão poucos? cada pessoa deveria ter ao seu alcance a possibilidade de enriquecer com o seu esforço. neste país, é cada vez mais difícil isso acontecer. o meu incómodo não se dirige à riqueza de uns, ainda que escandalosamente poucos, mas à falta de oportunidades para os outros. era esta mudança essencial que esperava deste novo governo. mas o sistema continua a não favorecer a melhoria de vida das pessoas.