Por obra e graça de um australiano

David Baverstock foi eleito enólogo do ano e numa prova comentada apresentou dez grandes vinhos feitos por si e com a chancela da Herdade do Esporão. Um êxito.

o anúncio de que david baverstock fora distinguido pela revista wine como o melhor enólogo do ano 2012 só pode surpreender quem não conhece o trabalho deste australiano que há 25 anos decidiu vir para portugal ‘com armas e bagagens’. já com idêntico galardão atribuído em 1999 pela revista de vinhos, david é hoje um nome incontornável na história de quem faz vinho no nosso país, razão pela qual a prova comentada ‘esporão: 10 vinhos do enólogo do ano’, realizada recentemente no evento essência do vinho, era de presença obrigatória para testemunhar de perto os últimos produtos deste enólogo nascido em adelaide, no sul da austrália, e que já passou por várias quintas do douro: quinta de la rosa, quinta do crasto e quinta do fojo.

desde 1992 que david aplica a sua experiência de décadas, os seus conhecimentos, vontade de inovar e a sua criatividade na herdade do esporão, liderando aqui uma equipa de enólogos constituída por luís patrão e sandra alves.

foi ele quem começou por nos apresentar os private selection brancos de 2008 e 2010, anos que não foram muito quentes no alentejo e que por isso mesmo deram vinhos muito equilibrados e frescos que podem aguentar uma guarda até dez anos. ambos feitos em co-autoria com sandra alves, o primeiro a partir das castas semillon, marsanne e roussanne, e o segundo a partir de antão vaz e semillon, apresentam a doçura natural dos brancos alentejanos e revelam-se complexos, encorpados e persistentes na boca. verdadeiramente surpreendente foi o reserva branco de 1996 (roupeiro, arinto e antão vaz) que apesar da sua idade (ainda por cima feito num ano bastante quente, pelo que não era provável que durasse tanto) revela frescura na boca e corpo. pena é que o seu tempo de vida esteja a chegar, agora sim, ao fim.

no que se refere aos tintos, estes feitos em co-autoria com luís patrão, o private selection de 2007 (alicante bouschet, aragonês e um pouco de syrah) revela toda a sua fruta, mas depois aparecem-nos os taninos robustos, acabando com um longo fim de boca. o private selection de 2004, feito com as mesmas castas, revela que a fruta está ainda doce, mas os taninos dão-lhe alma. na boca, apresenta-se firme e com um final seco.

numa outra ocasião, falaremos dos outros vinhos apresentados, mas não poderíamos deixar de destacar a grande referência que é o torre 2007, um vinho de boutique feito com aragonês, alicante bouschet, touriga nacional e syrah, que se apresenta muito estruturado, persistente e longo, e que vai aguentar mais dez a 15 anos em garrafa.

jmoroso@netcabo.pt