Dito&Feito

Circula aí pela net, entre muitas fotomontagens verrinosas e piadas corrosivas sobre o Governo, uma sucessão de imagens de Passos Coelho – em 2011, em 2012 e em 2013 – prometendo repetidamente o fim da recessão e assegurando que o ano seguinte – no caso, 2012 ou 2013 ou 2014 – assinalará o início da…

o problema dessa ilustração humorística, para lá da sua acidez crítica, é que ela corresponde sem exageros à verdade dos factos. passos coelho afirmou mesmo aos portugueses, tanto em 2011 como em 2012 ou em 2013, que a viragem para o crescimento positivo da economia ocorreria com toda a certeza num qualquer trimestre do ano seguinte, ano esse que já foi atirado para 2015 ou 2016.

o primeiro-ministro falhou redondamente nas suas promessas voluntaristas. tal como o ministro vítor gaspar tem errado cada vez mais estrepitosamente nas suas previsões sobre a economia e as finanças do país. ao ponto de os resultados da sétima avaliação da troika o terem forçado a nova pirueta nos números que já corrigira um mês antes… até o défice de 2012, que o ministro das finanças anunciara há pouco ter ficado em 4,9% do pib, acabou por disparar para os 6,6%.

acontece que, num poder político desgastado e desacreditado pela crise e a austeridade, passos coelho e vítor gaspar ainda constituíam, para lá do desagrado provocado pelas suas políticas, a reserva de rigor e seriedade que restava na imagem do governo. a qual assegurava, aos olhos de uma parte dos portugueses, os índices mínimos de confiança e esperança no rumo de ajustamento seguido pela governação do país. ora, a sucessão de erros e inverdades nas previsões e promessas de passos e gaspar acaba por atingir a sua própria seriedade e credibilidade políticas. o que é fatal.

é este governo que se assemelha agora a uma nau à deriva, sem rumo certo, sem responsáveis de confiança ao leme e com uma tripulação destroçada pelo desânimo. um governo que se arrisca a naufragar no embate com uma das próximas intempéries: o chumbo do oe pelo tribunal constitucional, o anúncio em maio dos cortes de 4 mil milhões ou a hecatombe eleitoral nas autárquicas. teme-se o pior.

jal@sol.pt