Dito&Feito

Os primeiros programas de José Sócrates, tal como a entrevista que deu ontem à noite, prometem ser verdadeiros êxitos de audiências televisivas. Ainda para mais e por contraste num canal, a RTP1, que vem caindo para patamares de audiência muito abaixo da SIC ou da TVI.

na verdade, o regresso mediático de sócrates tem todos os condimentos de um reality show. uma espécie de mistura de o juiz decide com perdoa-me. o país segui-lo-á, de início, com a curiosidade mórbida de quem se aprestasse a ver um delinquente explicar as suas motivações e escalpelizar os delitos que cometeu. ou com a indignação contida perante um burlão que se preparasse para justificar em directo os seus erros e vigarices ou o mal que fez aos outros.

mas os reality shows também cansam, a curiosidade dissipa-se depressa e os fiéis seguidores não abundam. ou seja, o êxito de audiência de sócrates promete esgotar-se ao fim de um ou dois meses, depois de esfumada a expectativa dos programas iniciais.

vale a pena recordar, a propósito, que ao ser afastado do palco, nas legislativas de junho de 2011, sócrates só conseguiu a confiança de 28% dos portugueses, numa das votações mais baixas da história do ps. agora, menos de dois anos passados e ao sofrerem as consequências – impostos agravados, cortes nos salários e pensões, falências em série e desemprego galopante – da sua calamitosa herança de uma economia à beira da bancarrota, serão já muito menos os que ainda darão crédito à sua oratória.

o reaparecimento público de sócrates parece prematuro, como até são forçados a reconhecer antónio costa e outros socialistas. só o desmedido ego político do ex-líder do ps e a sua urgência em abrir caminho a um objectivo inadiável – como uma candidatura a belém no horizonte – justificarão tanta precipitação.

para o atingir, sócrates bem pode baptizar os 25 minutos semanais do seu programa de comentário na rtp1 de 25 à sec, com uma apropriada ressonância parisiense. será uma espécie de lavandaria mediática das suas culpas e erros políticos, onde procurará branquear esforçadamente todas as malfeitorias e irresponsabilidades governativas. o problema é que são muitos os que não lhe perdoam o que fez ao país. e que não têm a menor vontade de o tornar a ver pela frente.

jal@sol.pt