A luz da sabedoria

A resignação do Papa Bento XVI levou a especulações pouco animadoras sobre o futuro do papado. Temos o privilégio de saber que as dúvidas não tinham qualquer razão de ser. Elas eram apenas o produto do receio do desconhecido.

a renúncia de um papa era até há um mês praticamente impensável, o que deu azo a que se julgasse que era um acontecimento pouco benéfico para a igreja e para o mundo. ao ver as imagens do encontro entre o papa francisco e o papa emérito, percebemos que joseph ratzinger fez o que devia ter feito, no momento certo. os acontecimentos que sucederam à sua resignação acabaram por ser uma prova da lucidez de espírito de bento xvi. não tenhamos dúvidas de que o ambiente de festa e alegria não seria possível se tivesse acontecido a bento xvi o que sucedeu com joão paulo ii. assim, o papa francisco pôde ser acolhido com a alegria por que os fiéis anseiam e de que precisam. ratzinger foi perfeito até ao fim.

o artista

em inícios de fevereiro, um hacker que responde pelo nome de guccifer, invadiu as contas de e-mail de alguns membros da família bush e deu a conhecer ao mundo o que andava a fazer george w. bush. imagens enviadas para uma irmã davam conta de um novo passatempo do ex-presidente dos estados unidos da américa: a pintura. dois quadros foram revelados à imprensa e ambos foram analisados pelo hyperallergic, um site que se dedica exclusivamente à crítica de arte. nem o mais radical anti-bushismo conseguiu abafar a perplexidade dos críticos, que classificaram a tentativa como fraca mas ao mesmo tempo desconcertante, por revelar uma faceta mais intimista de bush. os quadros parecem ser do ex-presidente na banheira. passados dois meses, o gawker mostrou o resto da colecção. cães, casas, uma melancia, um prato com uvas e um híbrido de burro e vaca foram os temas escolhidos. são assuntos eloquentes do seu mundo interior.

escreve como pensa

simon kuper escreve no financial times sobre os efeitos benéficos da linguagem usada nos blogues, nas redes sociais e até nos e-mails para outros tipos de escrita. a grande mudança não está na pobreza de vocabulário e de sintaxe, como vaticinam os mais pessimistas, mas numa alteração de fundo no modo de expressão. a formalidade outrora associada à escrita nos jornais ou em livros está a desaparecer para dar lugar a um estilo mais informal. haverá desvantagens num uso menos formal da linguagem e nem todos os resultados são bons, mas em geral a mudança é positiva. o estilo ajuda a uma maior proximidade com os leitores e também à memória. há estudos que indicam que as pessoas se lembram mais do que lêem no facebook ou no twitter do que nos jornais. pode ter que ver com o estilo usado, mas também está relacionado com o meio que ajuda a falar como se pensa. significa que a escrita está mais próxima do pensamento.

felicidade ocular

sou completamente fã da campanha publicitária de uma marca de óculos, em que vemos uma rapariga a saltar de felicidade com um vestido encarnado e uns óculos um pouco grandes para a sua cara franzina. num ambiente pouco colorido, outras pessoas também vestidas de encarnado aparecem de óculos e com um sorriso na cara. estão felizes porque têm a vista descansada e vêem bem. o anúncio é realmente simples, mas vi-o criticado no twitter por pessoas que devem ter a sorte de terem uma visão perfeita. só assim se explica que não percebam o objectivo daquela publicidade. é verdade que a intenção é vender pares de óculos, quantos mais melhor. mas o meio é verdadeiro. perguntem a qualquer míope se não fica feliz quando de repente vê o mundo que o rodeia na perfeição. deixa de franzir, abandona os esforços oculares. é um descanso físico e uma grande alegria. dá vontade de pôr um vestidinho e desatar aos saltos por aí.

cantina hindu

sou uma espectadora de imagens de comida no twitter e no instagram. gosto de ver as iguarias que os chefs criam na minha timeline (recomendo a propósito o instagram alegre de jamie oliver) e aprecio as fotografias dos pratos invulgares. assim como o twitter é cúmplice dos jornalistas, o instagram pode ser um aliado dos restaurantes, que aí podem fazer publicidade chegando directamente aos clientes. mas também há clientes que gostam tanto do que estão a comer que eles mesmos fazem a publicidade. nunca segui nenhuma recomendação, mas aconteceu há dias uma amiga no instagram fotografar um prato com feijões e lentilhas de várias cores. parecia tudo tão delicioso que tomei nota do sítio: a cantina da comunidade hindu de portugal, na alameda mahatma gandhi, no paço do lumiar. passados dois dias estávamos a ter um almoço que superava as expectativas criadas pela imagem. a entrada fica do lado direito do templo.