depois foi a vez de os homens tomarem lugar para discutir a europa. a zygmund bauman juntaram-se rui tavares, antonio scurati, tabish khair, sob o mote dos versos do poema de t.s eliot, ash wednesday: ‘because i know that time is always time/and place is always and only place (…)/because i cannot hope to turn again/consequently i rejoice, having to construct something/upon with rejoice’. uma visão polaca, uma portuguesa, uma italiana e uma indiana sobre a europa, onde não faltou uma lição de história dada por zygmund bauman e completada por rui tavares.
bauman traçou um breve resumo da história do velho continente e, olhando o presente através do passado, alertou para o actual divórcio entre política e poder e para a necessidade de a europa se reinventar, criando novos instrumentos que permitam segundas núpcias para duas entidade que nunca deveriam estar desavindas. e rui tavares, o eurodeputado historiador, não deixou, também ele, de olhar a história europeia dos últimos cem anos não só traçando paralelos entre o que se viveu antes da i guerra mundial e os dias hoje como ressalvando que os políticos envolvidos nos prelúdios da i guerra, bem como os decisores sobre os seus despojos, não eram homens estúpidos. pelo contrário: eram os melhores políticos, pensadores, filósofos do seu tempo que, no entanto, tomaram decisões erradas que haveriam de conduzir ao totalitarismo, ao genocídio e a uma nova guerra mundial. e, por isso, alertou, não podemos hoje ter a pretensão de os julgar como se fossem estúpidos mas ter em mente que os erros que eles cometeram são os mesmos erros que nós podemos cometer.
quando a conversa terminou foi tempo de correr para o teatro baltazar dias. joão paulo cotrim, inês fonseca santos, filipa leal, waldir araújo e ana luísa amaral, moderados por paula moura pinheiro, tinham como mote o título da obra de schopenhauer ‘a arte de lidar com as mulheres’. com belíssimas intervenções finalizadas pela de ana luísa amaral, reflectiu-se não só sobre as diferenças entre homens e mulheres mas, sobretudo, sobre a enorme misoginia do texto proposto e do da própria tradição literária. porque, como disse ana luísa amaral, as palavras são armas poderosas. “as palavras têm poder. são dos instrumentos mais letais que a humanidade detém e utiliza. as palavras, por si só, podem ser inócuas. mas quando organizadas podem ferir, matar. por isso as palavras de schopenhauer ofendem-me”.
a noite acabou em festa com sérgio godinho, que arrebatou o teatro com um concerto onde não faltaram êxitos como ‘com um brilhozinho nos olhos’, ‘o primeiro dia’ ou ‘liberdade’. paz, pão, habitação, saúde, educação foram as palavras de ordem entoadas por todos em coro no teatro. como disse o cantor, houve um tempo que, exilado em paris, não podia voltar a portugal. e por isso a liberdade, tão duramente conquistada, deve ser preservada.