A música antes do gesto

Para a coreógrafa Tânia Carvalho, música e movimento estiveram sempre intrinsecamente ligados, mas nas suas últimas criações o caminho que adoptou foi o da coreografia primeiro e só depois partiu em busca da música que melhor servia aqueles movimentos. No entanto, para O Reverso das Palavras (em cena a 5 e 6, no Pequeno Auditório…

a convite do festival aire de jeu, em frança, a coreógrafa portuguesa – que em 2012 ganhou o prémio para melhor coreografia da sociedade portuguesa de autores com icosahedron – foi desafiada para partir da obra da compositora norte-americana julia wolfe. «não conhecia o seu trabalho, mas assim que o ouvi não senti qualquer reticência», conta.

curioso é que, numa obra que nasce da música, uma boa parte seja dançada em silêncio. «a verdade é que a música acaba por se destacar ainda mais quando aparece, depois do silêncio». o silêncio é então quebrado com a entrada em cena de jean blanchard que, com uma gaita-de-foles, traz a obra de julia wolfe para partilhar o palco com os três bailarinos – entre os quais a própria tânia carvalho.

uma obra livre do constrangimento das palavras, mas antes assente «no instante em que as palavras dão lugar à expressão». uma sucessão de imagens entre a luz e a escuridão, para a qual muito contribuem os figurinos gráficos de aleksandar protic, mas que a coreógrafa assume ser «difícil de explicar, até porque a construção criativa é intuitiva». justamente por isto, a música é tão importante para tânia carvalho, porque «é possível entendê-la através das emoções e não há necessidade de a explicar. não é preciso perceber para sentir. é assim que tem de ser com a dança».

raquel.carrilho@sol.pt