o eurogrupo reúne os dezassete ministros das finanças da zona euro e é o órgão onde são tomadas algumas das decisões mais importantes dentro da moeda única como um resgate financeiro a um estado-membro, as alterações das metas orçamentais ou o alargamento das maturidades de dívida pública.
três meses após a sua eleição em janeiro, dijsselbloem é apontado como o culpado por um dos maiores erros políticos na história do euro com a desastrosa gestão do resgate a chipre, e são cada vez mais as vozes que pedem a sua demissão.
praticamente desconhecido fora do seu país, jeroen dijsselbloem, de 47 anos, sabia que a eleição para presidente do eurogrupo era uma porta aberta para o prestígio europeu e quem sabe, o reconhecimento mundial. o desafio de substituir o luxemburguês jean-claude juncker à frente do eurogrupo era grande: fosse pela fama do primeiro, fosse pela agenda difícil após três anos de crise do euro.
a gestão das crescentes tensões sociais contra a austeridade na europa, a crise política em itália, a fragilidade da banca espanhola, as divisões entre o norte e a periferia, mas sobretudo a tarefa de assegurar a sobrevivência de uma moeda usada por 300 milhões de pessoas que alimenta a maior economia mundial eram as alíneas no topo desta agenda. em rodapé, estava a conclusão de um dossiê menor que se arrastava há quase um ano em bruxelas: o resgate da segunda economia mais pequena da região, a ilha de chipre.
os primeiros três meses de jeroen dijsselbloem à frente do eurogrupo foram pacíficos e, em alguns pontos, surpreendentes. afastou as críticas de não ter experiência europeia ao imprimir alguma organização nas reuniões do eurogrupo antecipando horários e evitando encontros até de madrugada.
o discurso directo, aberto e a gestão da incerteza política em itália foi ultrapassada com relativo sucesso, ao evitar uma nova vaga de quedas nos mercados, o que lhe cativou alguns adeptos. o holandês agradava aos alemães por ser um defensor da austeridade, enquanto a sua filiação de esquerda era uma segurança para os franceses.
para dijsselbloem, a sua ascensão meteórica na política europeia parecia ser a repetição do seu percurso na política holandesa. nesta última, subiu a ministro das finanças depois de uma carreira de dez anos como deputado especialista em educação, com formação em economia agrícola e conhecido pelas campanhas contra a violência na internet e jogos de computador.
agora na esfera do euro, passou de um entre os dezassete ministro das finanças a chefe do eurogrupo com entrada livre nos encontros reservados a chefes de estado e reuniões privadas com durão barroso, christine lagarde ou mario draghi, presidentes da comissão europeia, fmi e bce, respectivamente.
porém, dijsselbloem cometeu de uma só vez os três maiores erros dos líderes europeus na actual crise: subestimar um pequeno problema (chipre), ser demasiado franco e directo em temas sensíveis (uso de depósitos bancários) e negar posteriormente o que disse à imprensa (que o modelo cipriota é para repetir). em apenas três dias, o ministro das finanças holandês passou de presidente do compromisso a espelho da desunião na zona euro.
a forma como geriu a comunicação do resgate de chipre foi desastrosa do início ao fim, revelando não só a sua inexperiência, mas também levantando sérias dúvidas sobre se seria o homem certo para o lugar.
o primeiro-ministro cipriota, nikos anasatasiades, acusou dijsselbloem de ser arrogante e violento na forma como estava a negociar o resgate ao seu país e ameaçou sair das conversações. o impasse obrigou à entrada em acção da cúpula da troika – barroso, lagarde e draghi – para levar a bom porto as negociações, o que representou o primeiro cartão amarelo para o ministro holandês.
o resgate original a chipre era polémico por usar pela primeira vez na zona euro os depósitos bancários para financiar parte do pacote financeiro de 15 mil milhões de euros – sobretudo porque os depósitos abaixo de 100 mil euros estavam, em teoria, protegidos pelas leis europeias. o tema era tão sensível que ninguém quis assumir a autoria da ideia, enquanto a linha de comunicação era vender chipre como ‘um caso único’ para evitar o pânico nos mercados e uma fuga aos depósitos. é aí que jeroen dijsselbloem concede entrevistas ao financial times e à reuters onde quebra o tabu e afirma que o uso de depósitos bancários poderá ser usado em futuros resgates. as declarações caíram como uma bomba nos mercados e nos países periféricos, disparando juros e arrastando as bolsas para o vermelho.
o ministro holandês ainda tentou, em comunicado, afirmar que tinha sido mal interpretado, mas o estrago estava feito. mesmo não tendo poder de decisão superior aos restantes ministros das finanças, viu de repente todos os pares afastarem-se. o seu maior aliado, o ministro alemão das finanças, wolfgang shauble, disse não partilhar da sua opinião e mario draghi chegou a afirmar publicamente que o plano original de chipre era «uma má ideia».
dijsselbloem descobriu a extensão da solidariedade europeia e a diferença entre ser frontal e verdadeiro no combate à violência nos jogos de computador e sê-lo na gestão da crise do euro, onde a verdade é normalmente um convite à desgraça – o seu antecessor juncker passou pelo mesmo ao admitir antecipadamente aos jornalistas que portugal iria ter mais tempo para as suas metas em 2012 para depois ser prontamente desmentido pelos seus pares.
o holandês sabe que foi o homem escolhido para dar ‘a cara’ na mudança de atitude da troika. nos futuros resgates, os pacotes vão deixar de ser financiados na totalidade pelos contribuintes e os accionistas, credores e depositantes dos bancos vão ser chamados a assumir perdas em casos de falência.
jeroen falhou na sua primeira prova de fogo e sabe que terá de assumir uma posição distinta se quiser manter o lugar. o próximo teste poderá chamar-se eslovénia. um país que está à beira de necessitar de um resgate financeiro devido à dimensão excessiva do seu sistema bancário. um caso em todo semelhante ao de chipre.