Abril – lusofonias e lusofobias

A primeira semana de Abril foi cheia de acontecimentos – bons e maus – nos países da CPLP: na quinta-feira, 4, em Luanda, celebrou-se o 11.º aniversário do Acordo de Paz entre o Governo e a UNITA na fortaleza de S. Miguel, agora sede do Museu Nacional de História Militar de Angola.

angola continua em paz e no museu estão também as estátuas dos navegadores e governadores portugueses – diogo cão, paulo dias de novais, salvador correia de sá.

outra boa notícia foi a da captura, por agentes da dea (drug enforcement agency), do ex-chefe do estado-maior da marinha da guiné-bissau, bubo na tchuto. na tchuto, um dos barões narcos da guiné-bissau, era procurado por intermediar o tráfico de drogas para os estados unidos. foi agarrado nessa qualidade, ao largo da guiné, por agentes da dea que se fizeram passar por traficantes e levado para cabo verde e daí para os eua.

desde que o governo de carlos gomes júnior foi derrubado e apesar das múltiplas condenações aos golpistas nada aconteceu para repor a legalidade. estas actividades criminosas são uma fonte de rendimento de bandos no país e até – dizem – do estado. a cedeao, que tão aflita estava com a presença da missão militar angolana em bissau, nada fez para acabar com o tráfico nem para iniciar o processo de reforma das forças armadas continuando o poder entregue aos golpistas. a acção da dea, serviu, ao menos, como lembrou ramos-horta, para aviso.

as más notícias vêm agora: é muito perigoso o clima de violência que se esboça nalgumas áreas de moçambique: primeiro foi, também a 4 de abril, o ataque a um posto policial em muxungué, no sul de sofala. o ataque foi assumido pela renamo, como destinado a libertar 15 militantes do partido. quatro polícias mortos e pelo menos um elemento da renamo abatido. mas no sábado, 7, houve emboscadas na estrada nacional n.º 1, a viaturas civis por homens armados que mataram quatro pessoas, entre eles um pastor. a renamo negou a autoria destes atentados.

mas o risco de contaminação da violência é sério. os líderes moçambicanos – no poder e na oposição – não podem permitir que o clima de reconciliação, paz e convivência de 20 anos seja posto em causa. em nome de nada.

o outro caso é o português. os juízes do tribunal constitucional, guardiões da sagrada constitucionalidade do texto de 1976, redigido e aprovado sob a vigilância do mfa e no rescaldo da paranóia esquerdista de 1975, chumbaram o orçamento geral do estado. não conheço os detalhes jurídico-constitucionais deste documento nem do parecer dos doutores juízes que o decidiram vetar. admito até que o governo devesse ter sido mais prudente na forma e a verificação da inconstitucionalidade pedida mais cedo.

mas o espírito desta polémica mais o espectáculo de jardim-escola das moções de censura, sob os acordes de um abril serôdio e para o ano quarentão, também são maus augúrios.

brandos costumes, não andamos aos tiros, mas há muita estupidez por cá.