Maggie tinha razão

Logo após as primeiras notícias da morte de Margaret Thatcher choveram na internet tributos à Dama de Ferro, desaparecida aos 87 anos.

vários dirigentes políticos manifestaram o seu pesar através do twitter. nigel farage, deputado do parlamento europeu, disse estar triste com a morte de «uma grande patriota», o que me lembrou a posição de thatcher sobre a união europeia, similar aliás à adoptada por farage. no youtube há imagens de um discurso na casa dos comuns, em que thatcher responde com três nãos à proposta de jacques delors de aumentar os poderes da comissão europeia: «não, não, não!». a soberania está posta em causa, o euro tornou os estados dependentes dos bancos e a liberdade dos povos europeus encontra-se ameaçada. ao dizer que sim, os desafios da independência seriam trocados pelo conforto (temporário e ilusório) da dependência. thatcher odiava a dependência e anteviu o desastre. é preciso ter coragem e grandeza para ter razão assim.

roger ebert (1942-2013)

o crítico de cinema roger ebert já era célebre e tinha ganho o prémio pullitzer quando o comecei a ler. cheguei tarde às suas críticas de cinema inspiradoras e cheias de sentido de humor através do twitter, onde fui uma das suas muitas seguidoras. roger ebert deixou de conseguir falar por causa da doença, por isso decidiu abrir uma conta no twitter. era a maneira que tinha de comunicar. e fê-lo de um modo exemplar, como explica sree sreenivasan, no texto ‘5 social media lessons from roger ebert, @ebertchicago’, no cnet.com. as cinco lições são as seguintes: 1) quem for interessante pode ser muitíssimo interessante nas redes socais; 2) o conteúdo estimulante atrai seguidores; 3) é melhor ser humilde na biografia; 4) há que participar nas conversas e 5) o especialista não é o melhor conselheiro. é bastante sincero na quinta lição. o autor do artigo gostava de roger ebert, mas era raro seguir os seus conselhos cinematográficos. até no que não influenciou, roger ebert ensinou alguma coisa.

e é mesmo

barack obama parece estar a lidar com mulheres bonitas de uma forma demasiado descontraída para a sensibilidade politicamente correcta norte-americana. desta vez, obama referiu-se em público à recém-nomeada procuradora-geral kamala harris como «de longe a procuradora-geral mais bonita». os colunistas escreveram que não havia mal nenhum no elogio público. já as colunistas não gostaram nada do piropo. os homens não dão razões para o que consideram ser um comportamento normal. as mulheres explicam que a beleza não é propriedade pública para ser comentada assim. sou sensível ao argumento, mas não se ultrapassaram limites de decência. além do mais, kamala harris é lindíssima de facto. obama limitou-se a dizer o evidente em voz alta e que terá passado pela cabeça de qualquer pessoa na sala. podia ter sido mais contido, mas não teria sido tão engraçado. kamala harris não foi objectificada por causa de um elogio público. também não sejam chatas.

 o argumento

a medida mais polémica do orçamento do estado, a contribuição extraordinária de solidariedade (ces), que implica um corte que vai dos 3,5% até aos 40% em pensões a partir dos 1.350 euros, foi viabilizada pelo tribunal constitucional. uma vez que se tratava de uma taxa aplicada a um grupo (os pensionistas) parecia haver a certeza de o princípio da igualdade, tão alardeado quanto impossível de cumprir, não estar a ser observado. afinal o tribunal decidiu que a ces não era confiscatória por as taxas mais elevadas só serem aplicadas «a partir de rendimentos especialmente elevados e deixam ainda uma margem considerável de rendimento disponível». é verdade nos casos das pensões douradas, mas não nos dos pensionistas médios, que fizeram um contrato com o estado para ter sossego na velhice e que sofrem com a medida. espero que a decisão seja aproveitada no sentido de impedir a existência de reformas a partir de um certo valor. continua muito por fazer.

dar seca

tinha curiosidade para ouvir o ex-primeiro-ministro josé sócrates como comentador televisivo, uma profissão que nunca deveria ter abandonado. mas a expectativa acabou gorada com a surpresa do tom monocórdico com que nos brindou. sócrates adoptou um tom sem graça para comentar a vida política e acabou o programa a falar de si mais uma vez, ao aproveitar o caso vergonhoso de miguel relvas para justificar a sua licenciatura. embora seja óbvio que está a fazer política, uma evidência que me parece positiva, não se percebe ao que vem. a sugestão de que quer ocupar a presidência da república dá-me imensa vontade de rir. basta olhar para a veia saliente que lateja na sua cabeça para perceber que não está a pensar na paz de belém. pode querer preparar o seu regresso ao ps, não atacando seguro, ao contrário do que tantos precipitados previram. mas assim não há razão para assistir ao programa. o melhor é deixarmos sócrates a falar com os seus.